quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Calendário da Confusão

Um novo mundo renasceu
sem cadastro, nem estatuto.
Os valores perdem-se numa
anarquia do reino absoluto.

Dias invernais de semana
resignam os sinais do coração,
trocando-se sem direções
no calendário da confusão.

E a triste passada abranda
com o passar do mais recém inupto;
o relógio é semente medicinal
e de tão coradouro, não é abrupto.

«jd»

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Não Regente

Podes agora jornadear
pela cidade pesarosa
sem ter fardos a mais,
sem silêncio e sem prosa.

Podes ser El' Rei de teu Reino
e ainda assim não ter nada para reger.
A pequena Rainha quer-te com ela,
mas não para a proteger.

Porque tamanha competência
dá-se com o aspirar de virtude,
e se tais qualidades não te vestem
é por seres homem de juventude.

A ambiguidade leva a lado nenhum,
porque sem certezas sábio algum se faz.
Se o monarca não toma decisões importantes,
na tarefa de a fazer feliz se torna um incapaz.

«jd»

Sou Como Vento É

O único que vejo é o sol refletido
no chão das águas da cidade.
Vislumbro-o com inatenção,
sem tão pouco reparar
que só tenho essa capacidade,
devido à torpeza do meu chorar.

É um chorar tão imundo,
mas tão fidedigno e profundo;
que até o vento solitário que
marea ao longo da rua,
pára para me escoltar
ao conforto da sua charrua.

Nunca um nome fez tanto sentido,
porque a pseudo-idealização do romance,
e a construção de um mundo a dois,
resulta num quebrar de maus versos,
antecipa tempos duros e adversos
num quebrar que aparece só depois.

«jd»

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Desbloqueio

Sinto-me flácido de confiança ao dizer que aparento, dissimuladamente, ser um poeta problemático. E atenção: já muitos outros atletas o ousaram fazer, mas nenhum outro engenhoso o conseguiu com a minha voluptuosidade e magia. Consigo ser e estar em tudo no que tu me quiseres ver. Fácil é fazer manobras arriscadas quando todos te apoiam, o mais árduo é permanecer imaculadamente inerte quanto todos se afastam de ti. As emoções de angústia e amargura jogam-se dentro da bola, apostam-se na cartada. As de saudade poupam-se, como aos míticos sons de uma lágrima pequena e achatada.
Vejo e sinto-me bem no escuro, porque é no escuro que vivo. Embora me assuste, obrigo-me a apagar as luzes de toda a gente com quem convivo. Numa singela ideia preformista, compreendo que nasci com toda a felicidade apropriada e dentro de mim e que, sem remorsos imortais, a estou indubitavelmente a perder aos poucos. Tão humano, tão animal, tão destramente natural...
De forma desmesurada estão os mil e um segredos encaixados no baú cuja a memória não é capaz de fazer soltar. Encontro mil peças de bocados de razão e todas se completam, mas nenhuma resolve o enigma. Enigma que se encaixa tão belamente dentro de mim, que nem a Natureza me concede o desbloqueio da minha salvação. E o amor por lá anda, no fundo que resta do discernimento, tão injusto e culpado, como nunca foi capaz de deixar de ser. E entre esse ser e o não ser fica a angústia, a amargura e a saudade num estado de trauma, semi perdidas sem pessoa a quem doar o seu terrível fardo.
Mas, se não tenho ninguém para me amparar,
de que me serve ser este tipo de escrevente
de que me serve ser um mártir e berrar?

«jd»

Furto Solstícial

As pessoas insistem na demência
esforçando-se pelo árduo ofício
de nos roubar o nosso maior solstício,
pondo em xeque a virtual adolescência.

Estou numa pausa de embriagada agressão
em que os sentidos anestesiam-se em confrontos;
mas os tatos são virgens em desencontros,
já que jamais se cotejarão só pela depressão.

Não estou por lado nenhum; deveras não estou
na terra mergulhando ou pelo mar passeando.
Percepciono só o interior adentro meu, errando
como um leal pintor cuja viva arte o atraiçoou.

O longe mundo desprovido está de sentido
e os sentidos longe vão de desprovido mundo.
A minha arte, a que construo e fecundo
pouco mais é que mundo vil e pervertido.

«jd»

sábado, 19 de janeiro de 2013

Equinócio

Sentado estou sobre a água que não cessa
em cair num jardim benigno e formoso,
sentimento pequeno como um escaravelho
torna-se verdejante como girassol perfumoso.

Dessa forma, potêncial viceja como trigo
numa manhã chuvosa de equinócio,
o Inverno é bom-samaritano e meditador,
abastado e abarrotado para o meu negócio.

E o negócio vai-se vendo de vento em popa,
quando tenho Musa de tão lusa de inspiração.
Se não a tenho, triste sem ledo fico,
solitário e enfermo de coração.

Quando a chuva insiste em perturbar
eu teimo em não me sentir intimidado,
porque de molho, o frio é exímio para pensar,
até para ruminar, mesmo quando desconvidado.

«jd»
pela noite mais escura do ano.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Hipocondríaco

Sou o mais recém perdido
numa imensidão vil e vazia.
Um perdido não-encontrado
todo estourado numa razia.

Finjo ser erigido homem
fingido em contra-mão,
corro sob lençóis de água
de lágrimas geladas pelo Marão.

A tristeza forma Eixo com o cansaço
de um mau escrevente bom pensante,
sou um mais um poeta quase que morto
num desanimo imortal e agonizante.

Nesta cruel e restrita zanga
que repele quem me atrai
desatento-me do jogo da vida,
de quem entra e de quem sai.

E na melancolia não me encontro
por estar-me triste sem razão.
Haja alguém que entenda esta
hipocondria do meu coração.

«jd»

sábado, 12 de janeiro de 2013

Sou Poeta Vadio

Escrevo-te por não te saber ler,
vivo por não saber pelo que morrer.
Heis a carta da eterna redenção
que te entrego desde já em primeira mão.

Rogo ao vento para que te traga
como recordação presa num memorial,
ouço a noite encadeada pela madrugada
como uma tempestade efervescente e imperial.

A brisa quente que refresca a cara
adormece-me os cinco os sentidos,
sou poeta vadio, perdido poeta sou,
por fazer dos versos dados quadros denegridos.

A água que corre debaixo do pé
não foge sem ter o que levar consigo
e o meu velho pingarelho Deus
ignora-me como um bom fingido amigo.

Vou partir no décimo sétimo dia,
porque as questões germinam.

O resultado é negativo
e essa linhagem não aumenta,
que se passa com o amor
se não se tempera com pimenta?

«jd»

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Incomplexidade em Rima Fácil

Um encanto belo e delicado
é como um sorriso por dentro de um beijo,
e o meu estado apaixonado e alado
faz parte do que sinto e não vejo.

Bom-samaritano enamorado
não vive com intuito de contar
as suas histórias de primavera.
E o pastor não divaga
sobre as Éclogas relíquias
que o outono lhe trouxera.

Longe vão as longas metragens
que se tornam lagoas sem reflexo.
Não. Para o nosso amor arder
não precisa de ser complexo.

«jd»
a aula de Português inspirou-me.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pernicioso Findar?

A perversidade da inércia
enaltece as virtudes nas pessoas.
Mas estará isso deveras correto se
quisermos saber se são más ou boas?

A conquista precisa de um
parceiro e esse cônjuge é a ação.
Se de bom ou mal nada fizeres
a tua história não cativará narração.

Para se encontrar de veras uma pessoa
tem que se findar pelo negro lado adentro.
Mas se perdidamente apaixonado continuas
terá essa pessoa maldade no seu epicentro?

Vento esquecido
e sais de cristal.
Quando escrevo sem sentido
encontro a origem do mal.

«jd»