segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Cartas de Saudade

Sonhas por dentro os sonhos,
choras a amargura da saudade
e os teus elementos medonhos.

A noite do dia e o dia da fortuna
deixa-as dormir no meio do sossego,
grudadas à cimeira de uma coluna.

As múltiplas granadas de esperança
ficam a léguas de distância do planalto
que a prava da saudade não alcança.

Mas no livro da madrugada
escreve rascunhando as tuas
cartas de vigente apaixonada.

Pois ama-me, aprimora-me.
Se gostas de mim como soletras,
amor não penses, incorpora-me.

«jd»
com Patrícia.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Repercussão

Não sei explicar a saudade do que não tenho. Nunca tive palavras cortadas, nem filmes mudos. Sou homem de extravagâncias modestas. Vivo em cima da colina, onde o sonho desagua e a verdade se esquece. Vivo numa singela cabana, num hotel de silvas baratas que incomodam. As flores crescem em abundância, mas eu sempre tive medo de as regar. Escrevo-as porque, se pensares bem, elas permanecem na memória de quem morre, mas nunca de quem homenageia quem morre. Isto é um pecado esquecido.
Quando eu tiver a inteligência a morrer e o corpo a desenvolver-se, aí sim, será a altura vertical de fazer jus ao que não fiz. Vou registar tudo o que não fiz numa biografia de episódios não-vividos. Essa lista nunca será tão grande quanto as aventuras do que vi e respirei, das sensações colhidas e dos frutos podres que se me obrigaram a mastigar, mas pode ser que quem leia goste à mesma. As pessoas gostam dessas coisas. Gostam de imaginar o 'e se?'. Porque não alimentar-lhes esse ego inexistente? Vê lá, eu até sou uma alma gentil.
As pessoas gostam dessas coisas, gostam de conjunturar futuros. Gostam de equilibrar as coisas, mas tristes são porque não sabem que até nisso são chorosamente trapalhonas. Eu próprio baralho tudo quando tento ser lógico. Mas nunca o sou. Por isso limito-me a pensar no passado; penso no lado ilógico de quem fez tudo certo. Repara que a história é feita de atos assim. Peças de teatro divididas em múltiplas cenas, onde os atores e atrizes, esses rapazes e raparigas de outrora, que deram tudo para que não desse certo - mas como acabou tudo bem e pelo melhor - são, ainda hoje, heróis. Parvos heróis, injustos heróis? Não. Só heróis.
A história é o supremo livro triunfal. E eu? Eu continuo nesta minha paupérrima colina. Rica em ouro, mas sem ninguém para a sua extracção.
Se ninguém viver perto de ti, serás como a minha colina (serás eventualmente, como eu). Serás tudo de melhor, mas sem ninguém para aproveitar o que de melhor tens. Dá o que não tens para que possas receber o melhor dos outros. Eu, por exemplo, nunca dou o melhor de mim para entreter seja quem for. Esse egoísmo está no Eu poeta que escreve de amor, de virtude, de aventuras. É por isso que estou nesta colina, é por isso que sou passageiro. A vida é breve e feia quando falo de mim. Mas eu quase sempre falo de mim.

«jd»

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Jogo da Glória

Um minuto de silêncio,
uma pausa na palavra,
um momento sem remorso
da colheita que nos lavra.

Somos a palidez feita por Deus
somos o que é e o que não é,
nascemos como humanos escolhidos
para rechear a Arca de Noé.

Somos a glória
e o seu solto jogo.
Somos a atração
de um revolto fogo.

Somos a violência do sexo
e a primazia da evolução,
todavia crianças prematuras
que carecem de educação.

Somos bons homens e vis mulheres
entrelaçados numa bolha.
Na cama somos feras,
mas na árvore somos folha.

Toda a aventura começa
com o primeiro passo:
mas a passada primeira
é fugir do futuro fracasso.

O sucesso é de paz e calma.
A minha flor precisa de atenção:
água na alma e sol no coração.

«jd»

domingo, 23 de dezembro de 2012

Está à Venda

Está à venda o vento inutilizado
que marcha pelas marés.
O galante cabelo grisalho
de um velho sem nada,
nada mais é que como um
barco preso numa enseada.

A guerra dos ricos
e a riqueza dos guerreiros.
A rixa dos sem abrigo
e a insígnia cor da íris.
Amorfinamo-nos pela saudade
dos órfãos quadros de giz.

Nem te dás conta de que
a mortalha já passou a ponta.
Não entendes o sacrifício virgem
e ingénuo de quem te quer.
Viajas sozinha no vácuo
de uma galáxia qualquer.

Está à venda a dádiva e o amor,
os céus, o tempo e o espaço.
Tudo a desapreço de Deus,
tudo de contra-oferta divina.
Para que a nossa paixão volte a galopar,
vai precisar de muito mais que morfina.

«jd»

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Amarga Fantasia

Um quarto sem janelas
é um quarto sem janelas.
Uma porta que não funciona
é uma porta disfuncional.
Ensina-me se quiseres uma
outra corrente antinatural.

Podia lavar a noite,
mas a noite está limpa.
Podia brindar aos céus,
mas água não serve para brindes.
A vida é uma grande bola
e as crianças são berlindes.

Requisitaria-te aos céus maiores,
podia ter-te só por uma noite.
Levar-te-ia para tão longe,
onde a vista não alcança.
Meu amor, fica tu encarregue
de equilibrar a nossa balança.

Balança balançando
no baloiço da avenida.
As luzes colam-se ao céu
e a sombra prima à negra teimosia.
E nós os dois, aqui, de mão dada,
traçando-nos numa amarga fantasia.

«jd»

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Invicto

É com felicidade que eu ascendo
como ar quente devorado por um balão.
Amor é aventureiro como dirigível
leve e suave como uma bola de sabão.

Jornadeio nessa jovial bola de sabão
esperando que me regues lábio após lábio.
Enxergo-te todos os pontos fortes,
as virtudes impressas no alfarrábio.

Vendo mapas e engenhocas de ti
linhas e bordeis de inocência,
razões para me manter perto
e deitar borda fora esta carência.

Esta é a cidade onde a criança brinca,
alegre no Porto, pelos passeios calcetados.
Ela sabe do amor e sabe do romance
que nos reserva a ser tolos apaixonados.

Deixemos a infância brindar à saudade
enquanto zarpamos rio abaixo,
a velha música louva o idoso Douro
com as cordas de piano e de contrabaixo.

«jd»

dedico aos tantos amores que se estreiam na Invicta.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Tempo de Irreflexão

O tempo que perco, o tempo que dispenso
sem olhar e sem caminhar ninguém,
é um tempo e uma atmosfera do imenso
onde a reflexão se aniquila pelos caprichos do além.

Quando não os uso - os sentidos -
progrido pelos passeios calcetados e belos
de nevoeiro alvacento; são nomes de apelidos
nunca gravados nas descartas dos castelos.

Prendo-me nesse cavalgar
enquanto rumino o não-pensamento,
reverbero atos precipitados do pensar
durante a minha conjuntura de isolamento.

«jd»

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Horizonte

A tecla marinha, a deflação do céu, o firmamento e o desembarcar ás oito da noite num porto de ilhéu. A corda de estrelas que me acorda de um sono ao de leve situado, anuvia desde o passaporte do mistério, à força da palavra e ao bilhete dourado.

Heis a descrição de uma aventura que se avigorou em depravar o horizonte. A promiscuidade de tornar uma linha tão pura, numa maldade comparável à de Caronte. Essa linha desenhada pela mão natural, é onde o Sol nasce e onde ele descansa, separa corações pela inabilidade do olhar total, no diário de uma atracção fera e mansa.

Deste lado eu sonho com algo bonito e alado. Sonho com o voar dos anjos, com todas as suas vestes e arranjos. Iludo-me e fantasio com a virtude de estar vivo, sentindo na veia o dom quente de viver. Sei por quem vivo e por quem daria tudo até morrer. Sei que é deste lado da cordilheira que está a parte fundamental do instrumento de viver, porque embora a Estrela já tenha florido além limites, por cá eu ainda não a vi nascer. Há-de iluminar pelo vidro de uma janela ou até sob o sabor amarelo de uma tela.

O Horizonte é a distância entre o aqui e o ali - é a castidade - é o passar de um colibri sem idade.

«jd»

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Açodamento

A precipitação já elevou heróis iletrados
- jovens exímios na arte do bem suceder -,
se porventura um dia me tornar teu cavaleiro
assume as tu rédeas: não deixes a paixão esvaecer.

Vamos queimar etapas e viver do repentino,
dar luz ao que se fecundou mas não nasceu,
saltar barreiras e correr descampados,
fumegar pelo que nunca se entorpeceu.

Mas amor, até mesmo nesse açodamento
fazemos as coisas pelo manso devagar;
não queremos que a nossa cabana quebre
com a truculência dos que querem
invadir o seu bucólico lugar.

«jd»

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Somos Casualmente Indomáveis

Pois é na História que pertencemos
e é na fábula que nos merecemos,
por sermos animais mortos
que se falam sem leves modos.

Por nos fixarmos sem modos
ou com delicados modos únicos,
fazendo desse modo único o único modo operacional
e levando a bom porto o nosso puro lado emocional.

E somos os animais ilógicos
e somos a máxima da linhagem
somos um nada de todo o Universo,
mas representamos todo o seu lado selvagem.

Somos o inelegível fraco bom,
somos o inconfundível forte mau,
somos a segurança, a criação e o dom
e o domínio pela catana e pela força do pau.

Somos a indomável Espécie que ninguém gostaria de ter,
a brava rebeldia que Deus foi obrigado a conceber.

«jd»

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Doutrina

A fama é a solidão,
a ala inocente de uma prisão.
Cordas, hordas, bordas
e bonitas desventuras no cais.
Caminhos de pinheiros brutos,
frutos vermelhos e outros proibidos,
euros, libras, rupias e três reais.

A morte é a vil doutrina
e a vida a sua boa propina.
A cara é a febre benigna
e a coroa a simétrica maligna.
Não raro, conoto-te nos meus lábios
como um quinhão da amarra cruel
dividida pelo Olimpo dos sábios.

Porque gato quer ser cão
e cão quer ser lobo,
o merónimo apresenta-se à tua mão
e homónimo é o todo e é o globo.
Porquanto és a primavera e és a Natureza,
e és como Sol que deambula para raiar
o teu próprio inteiro auge e beleza.

«jd»

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lições Para Uma Paixão

A primeira disciplina remete-te para nunca seres um apaixonado demais ou um apaixonado de menos. Seres um apaixonado de pólo positivo leva a conflitos interiores, a problemas posteriores, a desventuras e a dores. Um apaixonado de pólo negativo induz a contra-tempos com a cara metade, o que descampa na perda da virilidade da vossa amizade.

A segunda lição é, de modo ligeiro, algo túrbida, algo chata, todavia vital. Diz-te que amar é somente amar. Amar é só amar por não ter o que amar, só quem amar. Isto porque o pouco que, ele ou ela, tem para nós é tão muito que enche e nos regala. E nem precisa de uma bela gravata ou de um vigoroso vestido de gala.

A terceira preleção roga-nos para uma paciência não interna mais intensa, a multiplicar com alterna - senão leva-te a ti à loucura. Não tens de ser uma bomba relógio enroupado em pressão constante. Mas também não podes tê-la externa e visível demais, senão leva a tua alma gémea ao delírio. Há que ter uma virtude de calma, de ponderação, de harmonia e de extrema desmentalidade racional. Lembra-te que não és uma criança qualquer, és A Criança Escolhida para escoltar o teu amor até porto seguro.

A quarta faculdade sugere que, na paixão que vives, é substancial seres um companheiro ciumento com um ciúme moderadamente galante, que seja uma mistura de terno com eterno. Um misto de mar e céu, uma fusão de dia e noite, a dualidade entre yin e yang. O compactuar da Natureza com Homem.
Recorda que o ligeiro balancear cativa todo o equilíbrio perfeito.

A quinta lição é o estimar da primeira balada e canção, do segundo beijo com benção, da terceira louca possante emoção e do quarto onde o orgasmo se encurralou na redenção. Mas ninguém te pode ensinar a seres um apaixonado, por isso aprende só esta última lição.

«jd»

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ioctossegundo

Cada nada é uma vida
por onde passo estirado,
enterrado nos seus braços.

Cada tudo é um momento
- uma pausa num intervalo de tempo -
transformado em mil passos.

A vida que me faz chorar
nunca se profetiza a demorar.
Transmuta-me numa solene vertigem,
num alongar da minha origem.

«jd»

sábado, 10 de novembro de 2012

Empreender

"Mas povo dorme na ilusão
e a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão.
Meu deus, livra-nos do mal
E acorda Portugal..."

Convém trocar o difícil pelo politicamente correto, porque o politicamente correto é fácil, é comum, é vulgar. Qualquer um o faz, até o primeiro-ministro. Invulgar é tê-los no sitio para condenar os atos fáceis e os desafios alcançáveis. Há que ultrapassar o apenas alcançável, há que superar a linha que nos acorrenta à modéstia. Há que exceder a capacidade de interiorização e partilhar o que de melhor somos capazes de empreender com toda a arrogância que o padrão da nossa cultura nos consente.
As missões não são impossíveis, são só passiveis de dificuldade. E a facilidade é fugir a essa dificuldade, temê-la. Fugir do caminho fácil, do caminho mais tentador, é a missão de uma vida. É uma missão contínua, perpétua. É a missão de um homem, de uma grande mulher. É de uma não-criança. É de alguém que se julga adulto, bravo e responsável. E quem foge não é pai de ninguém, não é amigo nem é meu conhecido. É apenas um podre e pobre penoso coitado que vive atormentado e acomodado pela rapidez e singeleza de respirar. Mas cuidado, um dia nem respirar te vai ser fácil. E é dessa facilidade que te quero ver esgueirar.
Diz-me o que o queres, tudo o que preferes. Preferes viajar pelo rudimento a vida toda? Expectativas, sonhos, não tens? São premissas não realizáveis? Acorda para o mundo, para o país, para as nações que já não mais atura a tuas cartadas de complicações. Preciso de ti desnudo e ativo.

«jd»

Verso de Tiago Bettencourt, Eu Esperei.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Montado Na Minha Utopia

Preciso de ir às estrelas e roubar-lhes um pouco de matéria. Só levar emprestado! Rasgar delas o que não me pertence para que passe para minha posse. Arrancar-lhes tudo para colmatar a dívida para com a minha faculdade. A faculdade que não tenho, porque a tenho em falta. E fosse dinheiro o que tenho em falta! O que tenho em falta é pouco de dinheiro e muito de ganância de não o ter. As minhas ganâncias variam entre o zero e o zero. São o zero a multiplicar pelo zero, são só zero. São o zero virado do avesso - pois, é zero. Não, não tenho ambição senão a cobiça de ter o pouco que não tenho. E o que é o pouco que não tenho? Ó inteligência, o pouco que não tenho é tudo que resta, é o tudo o que me sobra! É o meu tudo.
E o que é o meu tudo? Caríssimo, o que é tudo para ti, é pouco para mim. E o pouco para mim é dinheiro. Dinheiro que para ti é tudo. Não que o dinheiro seja pouco, até sou rico e tenho um bocadinho de pena de o ter demais. Oh, mas é sempre pouco, é sempre nada. Tudo para mim é não ter dinheiro.
E o que é não ter dinheiro? Bom, não ter esse vírus é como não ter uma gripe. Repara, quando estamos de gripe, com o cabrão do nariz a pingar, engasgados e enjaulados na cama, temos sempre uma mãe, uma avó ou uma tia (ranhosa) que nos cuida. Temos um telemóvel que nos liga a quem nos liga. Que nos alerta para quem está com o alerta inclinado para nós. A gripe invoca-nos todos os amigalhões que durante a semana se riram da oleosidade do nosso cabelo, das lacunas das nossas piadas, dos nossos erros e dos nossos espalhanços no chão. Divertem-se com esse mero lazer de nos proporcionar esses momentos irresistíveis e únicos.
O dinheiro é o outro vírus que também atiça esses manhosos na nossa direção e que nos entorna, embora torpemente, no isco deles. Por isso, não ter dinheiro é estar desprovido de responsabilidades. Não ter dinheiro é não ter de alimentar esses espertalhões pseudo-cúbicos que vivem de nós, do rendimento que se lhes damos. Desprover de dinheiro é ser feliz e descomprometido. Não ter dinheiro é o lado certo da ravina, é a bênção de faltar algo e nem sequer nos ralarmos com isso.
É essa a razão de eu querer ir às estrelas. Quero ir lá, montado na minha utopia, para roubar o dinheiro que elas não têm e para levar emprestado a felicidade jovial que isso me provocaria. E diz lá amigalhaço, não descrevi um cenário divinal?

«jd»

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Escultura

No caminho inicial do meu pensamento
dirijo-me o impulso e venho do alimento.
Indago-me se não terei ficado amaldiçoado
tolo por ti e por ti parolo desajeitado.

Recebo mensagens, cartas,
e telegramas de toda a gente.
Quero nunca abortar a conexão
e dilatar-me sobre ti veemente.

Subjugar juízos de ternura
sem reclamações, soa tão
complacentemente como ter
uma paixoneta depois das eleições.

Acho que estou tomado por uma
fortaleza empreendida em amor,
porque cada sorriso na tua cara é
obra prima de um primoroso escultor.

«jd»

domingo, 4 de novembro de 2012

Esqueci-me de Esquecer

Esqueci-me de esquecer
que é por ti que eu morro,
mas que é por ti, meu amor,
que eu tanto quero viver.

Tudo o que possas e digas
e tudo o que não possas, mas faças,
fá-lo num compasso de espera,
divide-o por pequeninas migas.

Porque a brutalidade
e franqueza das tuas palavras
não é tolerada pelo meu coração
que bombeia pela tua deidade.

Vem ter comigo
não me deixes só.
Diz que me queres,
oferece-me o teu abrigo.

«jd»

domingo, 28 de outubro de 2012

Segundo Ensaio sobre o Sonho

O meu sonho é ter um benigno falar,
e puder orar por meio mundo
sem que me impeçam de atuar.
Descrever o quanto ele é belo,
o quanto ele é de trevas facundo.

O meu sonho é ter um ajustado paladar,
e puder degustar por meio mundo
sem desmerecer o sabor do meditar.
Deliciar o quanto ele é belo,
o quanto ele é doce e jucundo.

O meu sonho é ter um sensível e terno tato,
e puder apalpar meio mundo
sem desprover do lado sensato.
Tentear o quanto ele é belo,
o quanto ele é vagabundo.

«jd»

sábado, 27 de outubro de 2012

Primeiro Ensaio sobre o Sonho

O meu sonho é ter uns pardos olhos,
para puder olhar meio mundo
atrás de virentes verdes folhos.
Deslumbrar o quanto ele é belo,
o quanto ele é imundo.

O meu sonho é ter um bom olfato,
e puder cheirar meio mundo
com a nueza do desbarato.
Farejar o quanto ele é belo,
o quanto ele é nauseabundo.

O meu sonho é ter um vagaroso andar,
e puder marchar meio mundo
numa áspera noite de luar.
Aperceber-me do quanto ele é belo,
o quanto ele é retundo.

«jd»

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Inveja Vem Sempre de Baixo

A poesia faz-te sentir falhado
e as baladas supõem-te um bom mal amado?
As marés escondem-te sem fé de afogado
ou como sem abrigo sobrevivendo no eirado?

Vá lá, deixa-te de perdões
deves bem mais do que exiges dos outros.
E esses outros não te cobram favores divinos,
nem moedas de prata lançadas
à estratosfera dos desnudos destinos.

A boa integridade e a decência
são sempre admirados pelos olhares
perversos e com volumosa demência.

Isto explica o vácuo duma paupérrima gentalha
que não é habilidosa o suficiente para ter
visão descolada do soberano provido de medalha.

«jd»

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Coexistência

O sol é o major testemunho
da nossa sublime fusão atómica.
É brigadeiro duma singular coexistência,
matriz prendada de excelência.

É o visionário que extravasa e promove
a aliança das nossas duas almas,
é porventura a razão duma felicidade utópica
merecedora de uma salva de palmas.

O nosso cupido de Outono
permuta num fora de prazo.
Mas a tua paixão em meu abono
é como o tempo jungido no espaço.

«jd»

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

República dos Servos

O impuro é escuro, mede loucos pela avenida
é uma meta sem partida, guarida mas homicida.
É herege maduro, é um duro vasto hiato,
é um péssimo futuro projetado no imediato.

É o vendaval dos que se abstêm, mas viram
o proletariado anuir e encharcar sem fruir
dos proveitos que os ruins réis demais nos tiram
sem nos questionarem se os aspiramos abolir.

Quero a vossa "soberania" de pernas para o ar,
exijo ter a minha independência longe do vosso naufragar!
Quero gratulação pela fome da minha velha condição
que a república me tira por ser o lar da corrupção.

Abaixo à serventia desta dimensão deturpada
onde a virtude popular martela sobremodo empenhada
por uma inexperiente turma que teima no absurdo
de querer converter a gentalha no seu clemente surdo-mudo.

«jd»

domingo, 14 de outubro de 2012

Chuveiro

Descobri que gosto de me sentar na banheira.
Acato com o som húmido e quente do chuveiro,
enquanto meço e penso nos meus vícios e sonhos,
nos trilhos de trânsitos e paradoxos tons medonhos.
Água lusa, molhada, calorosa e boa intrusa:
como gosto não ter sequer de te ouvir!
Quantos têm o dom de ser conselheiros e mudos como tu?
Extânsias-me com esse teu galantear,
com os teus dois átomos de hidrogénio
e o de oxigénio sempre sempre como teu par.
És o orgasmo e a corrente de adrenalina de que preciso,
és o gritar genital no momento mais conciso.
És o relaxar da minha introspeção,
és o abrandar de um coração.
És o repentino atenuar dos músculos,
és a mulher sem seios maiúsculos.
E só cais em cima de mim.
Nem precisas de mais para que te ame.
Cai, precipita-te, vasculha-me por favor!
Reina, dedica-te a subornar a minha paz.
Não me ames meu amor, seduz-me só
como empreendia um formoso faraó.

«jd»

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Paladino

Quem cobiça um poder, aspira adquirir um amar.
Querer ter quem amar e as bases para aprender a amar.
Imperioso é suspeitar dos remédios viciados
porque provado está que não resultam nesta fórmula
onde a receita não está vigente na vanguarda da rótula.

Ter amor enquanto substância é como ter uma equação inacabada:
tão incompleta em abundância, fruto duma vil calculadora estragada.
É um pacífico dote ter com quem partilhar
a delgada parte do prazer e o inteiro grosso da dor,
sem o egoísmo de se tornar um tirano amante colecionador.

É tão bom enfim, lembrar talvez da primeira vez, da pioneira de muitos clarões.
Em que ver o descolar dos aviões já é criança no preencher dos nossos serões.
Fundem-se o carvão do lápis, a goma da borracha e o tornassol do papel
ajudando a encriptar a poesia enquanto espaço-tempo cristalino,
munindo o nosso amor ímpar e intemporal com a garra de um Paladino.

«jd»

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Conjunção

Não há nada que me possas oferecer de ensinar. Sou autodidata.
Viajo à toa sem passaporte, pelos maiores céus, munido à astronauta.
E nos teus cumes e luas marco o encontro, no teu peito assinalo um risco subtraído num ponto. Nas tuas pupilas vejo-me perdido e na tua língua procuro um sentido. Há centenas de esquerdas onde abandono um indicador na mesa, contrapondo com a placidez da minha incerteza. Durmo à noite e na noite durmo, mas vou demais depressa e na pressa procuro sinais. De ti. Sinais de que te vivi.
Eu sei quem sou, sei que te sou porque te sou, sei porque sempre te fui e sei sempre te sou. E sei que sempre te serei, sei num futuro perfeito, sei no imperfeito e/ou sei no mais-que-perfeito. Sei que conjuntivo te serei amanhã ao deitar-te, serei-te ontem ao acordar-te, serei-te para a vida enquanto corrermos, serei-te por hoje enquanto nos vemos. Serei o teu ciclo interminável e o teu infinitivo de amar, serei duas faíscas de ar pulverizado pelo revólver desmaterializado a chorar. Serei no modo super mais que imperativo, o rasgo de espada encaixada numa pedra que só te pertence e serei, simultaneamente, o teu tal guerreiro que a arranca de lá.
Somos uma conjunção, uma conjuntura de união. Somos juntos o que muitos procuram. Somos o cansaço dos amores perdidos e dos solteiros apaixonados. Uns forçamente se agarram, outros pedem para serem agarrados. Mas nós não. Tu e eu. Eu, sem gesto de covardia, olharei com a alma e a mente, vislumbrarei cuidadosamente o sol. De frente o sol. E congratularei-me por te olhar, desse abalroado modo, sem me queimar.
De e só por te idolatrar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Negócio

És a sina de um forno resfriado.
És também o apetite de esperança
de um Tudo muito mais extasiado.

Hoje vi beijos teus sem cordão de nostalgia,
fiquei até referto por sonhar com os teus
lábios hemisférios no meu livro de geografia.

Estando eu nesse estado de aparelho ligado
com a cavilha da pilha enleada ao meu ventre,
sou incongruente, quociente vasto e pesado,
como inseto escarafunchando a sua semente.

Está bem, procurei-te do lado errado da rua!
Só pouco depois, ao escorregar da noite,
é que me apercebi que eras tu, e só tu
quem gentilmente cedias o clarão à lua.

Mas voltando às labaredas,
o que atormenta o negócio da nossa paixão
é um quadrado desmembrado por uma raiz
que plagia com a mesma notável ligeireza
com que os governantes soterram o nosso país.

«jd»

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Improvisado

A minha relação comigo e contigo
é demais potêncial e promissora.
Por isso não é quanto uma tesoura que inibe
o faustoso couro cabeludo de uma senhora.

Em toda a parte, houve e há o reparo de quem vê
sem realmente ver, tencionando não e nunca me conhecer.
Há sempre o boato, o pergaminho e o cachimbo,
do bom inspector matriculado por um carimbo.

E na minha intolerante dependência de ti
sou sempre livre e livre esboço-te
como meu único debuxo de rubi.

Somos encaixados e perfeitos nos altos um do outro,
mas só porque dá certo, não simboliza o paraíso.
Repara que muita dessa obra advém do nosso improviso.

«jd»

sábado, 29 de setembro de 2012

Chorar

     Toda a gente chora: antes ou agora; momentaneamente ou então outrora. Tanto dá. Chora, toda a gente e por toda a gente. Ou ora até chorando, orando para o reverbero, para o mil ou para o zero. Tanto serve. Ou chora amando, desertando ou estilhando fluxos de veneno, por amar.
     Nem todos se dignam a saber, a aprender, até, a chorar. Não é grande arte, nem ofício grande até, nem tão coisa de empregar. Ninguém pretende querer chorar de vez em quando, soluçar com o cloreto de sódio a escorrer pela boca fora, pela mordida do lábio, mas é tão bom quando esses ninguém nos vêem no nosso turno de choro.
     Bom, talvez não seja bom, mas é bem. Podia deixar de ser bem para passar a ser bom, porque bom não é bem. Pois agora, sem medo, revelarei: é a natureza quem mais chora. É. Não agora, mas chora. É máquina de chorar, porque tem o condão de fazer a lágrima cair e pum, por tanto nos chapinar! Não é feio de todo, nada disso; não. Qual remorso qual quê? Qual vergonha? Por aí, nem há reflexão nem pensar. É só instinto por chorar. E bem chorar! - que belo chorar!
     É isso, só.
     E se a nuvem, acima de ti, chora; e se os fracos, sempre abaixo de ti, choram; se tudo chora, se todos choram - e se dão a chorar - porque não? Porque não chorar? Chorar como rir.
     Há tanta gargalhada, toda ela mal enumerada e emparelhada. E o choro nem um algarismo tem. Pobre choro! Mas, há-de ser feito uma justiça, porque a natureza não se ri, mas chora. Não agora, mas chora.
    Por isso vou chorar um pouco enquanto escrevo, ao longo do que digito. Chorarei, debaixo da lua chorarei.
    Chorar é estrategicamente natural, tanto quanto rir: que começa a tornar-se uma coisa tão banal.

«jd»

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Fraternidade

No intervalo do jogo, o vagar é sublime
e devagar impressa o seu espaçoso crime.
E essa lentidão sem propriedades sub-atómicas,
endoidece as ricas amizades puras e astronómicas.

O património desmesurado
sob o condão desproporcionado.
Rogo aplauso à valentia doente de quem licita a alma
ao imaculado companheiro fraterno do céu e da calma.

As histórias das bolas a fazer rolar o chão
e das meninas a quem ousamos estilhar galardão.
Das velhas caçadas, das vitórias nas cartadas,
dos futebóis sem destino e das fábulas das enseadas.

Os quatro ventos e os gritos sem pavor.
Mil e dezoito abraços intensos pagos com fervor.
Outras dezenas incontáveis no memorandum,
onde se extraviam carinhos sem recibento algum.

Em sumário compactado como armário,
arriscaria a dizer que amigo é tal e qual como sumo concentrado:
Chega para mais de cem copos e valorizar-se-há
para mais duma centena de corações;
No entanto é aquele que nunca deita fora
todos os milésimos traços de recordações.

«jd»

domingo, 23 de setembro de 2012

Cereja

Vá, sê tu e bem mais do que te és.
Assume nova farda num tempo de fortes marés.
Ampara-me nas noites frias de outono,
nos longos períodos e meses de guerra
onde a gente da terra se submete a um trono.

E é essa toda submissão em ti que me encanta,
que me fascina e sujeita a ti minha governanta.
Pelos teus lábios bons de colher,
e pelas tuas finas curvas de reles mulher.
A cereja do teu paladar é a minha zaragata,
é demais doce, de tão boa quanto me mata.

Ora portanto, imagina nós dois
numa cidade com múltiplas celas
a ensinar estas inférteis e ilícitas pessoas
o quão delicioso é beijar as estrelas.

Por definição, o amor é toda a esquina,
é fração de madrugada e fatia de neblina.
Amor é suspiro de chefia e comando,
é raça que carece de se ir alimentando.

«jd»

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Carvão Dourado

Beberás e jamais indagarás a razão para beber,
vais perder terreno, pecado e remorso sobre tal veneno.
Na praça do povo, o fio de barbaridade é querer ser sem crer
e leiras, canteiros e rosais serão o mesmo ontem sem clima ameno.

Bagas de frutos, pacifismo e deuses brutos.
Jóias de coroa, facadas em prol do que magoa.
Pentágono de dezoito ponto um vértices,
artéria inflamada em contraplacado,
pássaro ou pluma de carvão dourado.
Na morte há vida além da exaustão,
há ressurgimento pós-opressão.

Somos oásis de lua que chove lá fora,
somos encanto vendido como resíduo de penhora.
Enquanto caminhamos a imaginação tem-nos parados,
impondo-nos à valentia de sermos uma raça de falhados.

«jd»

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Anuição Soberana

Sou cético. A verdade é minha.
Creio só e tão pouco na minha frieza.
Vivo aquém da demais riqueza
e bem além de menos pobreza.
Nada, além de mim, jaz por funcionar.
O circulo planetário insiste em nunca me acatar.
Somos o testemunho do que nunca conhecemos,
e somos a cara metade do amor por quem ardemos.
O pulmão nem sempre cumpre a sua função,
metamorfoseando-me num ser sem convicção.
Eu debuto-me a atingir a encarnada linha
escondendo-me num quartel sem adivinha.
Sou filho de Deus.
Mas de que Deus eu sou neto?
Eu quem amo, realmente amo. Mas amo quem?
Amo-te que lês, amo-te por três.
Sou amante, vibrante, fulgurante
total e totalmente apaixonante.
Mas sou cético. E assim ninguém me quer.
Vivemos do zero, mas aplicamos-nos o auge de austero?
Lá porque a verdade é do meu domínio,
desde quando fiz disso um desafio?
Isto são perguntas a ninguém,
porque sou cético. A verdade é minha.

«jd»

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Portugal

              É sob o céu pardacento que submergimos sobre o pensamento. É por dentro do nosso ar eloquente que penteamos uma nova semente. É pelos vales e pela escumalha que trabalhamos no ofício, aguardando provas de que o nosso esforço não é fictício. Tão escabroso esforço pela pátria temos nós. Valerá a pena a diligência dos nossos pais e avós? Árduas questões questionadas a quem não se questiona se qualquer conteúdo foi contido. Ou prescrito; dito. É maldito.
              Não há patriotismo que eleve um povo que na inércia procura Boa Esperança. E não há Cabo, rota ou expedição que nos recupere a referta bonança. Não há cá terras novas, nem mares por descobrir. Não por lá há frutos, especiarias ou negreiros a quem retribuir. Não há já escravidão aqui ou além terra, não há incenso ou acerra. Não há paz nem tão pouco há guerra. Mas a fome emana. A desilusão acompanha e a nossa algibeira é quem apanha. Espancamentos, jumentos. Gente incrédula e dirigentes corruptos e ciumentos. Espelhos partidos e sonhos ruídos. Horizonte prometido, todavia raça e prosperidade encolhido.
              A nova temporada há-de desembarcar. Novas hão-de acompanhar. Perspectivas, panoramas. Sopros de nação longe de chamas. O povo não pede clemência, o povo não precisa de factos de internacional aparência. A plebe ambiciona reminiscência dos tempos em que lutar por um imaculado fim não era algo considerado socialmente como paupérrimo, ou ruim.
              Lutar não é envergonhar. Lutar é para não mais vergar! Lutar é para erigir, para persistir e para nos instruir! Lutemos então e sem armas na mão, apenas com o enchimento do nosso fulgor e determinação.

«jd»

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Vácuo

É a preto e branco que te sonho.
És no bloco o rascunho que projeto.
És a claustrofóbica cela que te imponho,
com juventude despejada pelo decreto.

É doutrina aliada ao pular de alegria,
é ouvir tocar piano e amar sempre com magia.
É todavia apenas uma só fórmula para o sucesso,
que a ternura nos eleve ao notável progresso.

Sou alvorecer fraco,
crepúsculo destrutivo.
Uso e abuso do prazer
de me fazer sentir vivo.

Esperemos só mais um compasso de tempo,
deixando queimar o resto da tira de magnésio.
Deixa no minuto e na hora o que resta de fora.
Todos os desaires fotografados de outrora.

Pacifismo, lua cheia,
céu, astro e cometa,
meu todo sol de cor-de-aveia,
preenche o vácuo do meu planeta.
 
«jd»

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Queres?

Quero.
Quero pessoas perdidas. Animais acompanhados. Os beijos esperados. Os olhares trocados. As lições mal entendidas. Quero cadernetas cheias. A desvirtude dividida a meias. A adrenalina a escorrer do céu. Reflexo lunar levanta o véu. Estás, ofegando, atrás de mim. Vagarosamente, cheiro-te. Delicadamente, viro-me. Subitamente, beijo-te. Arrependo-me. Tremo, tropeço pelo abismo. Esfaqueia o meu civismo. Beija-me de volta. Sê Cinderela à solta. Faz-me chorar. Lança-me ao ar. Ouve o disco, passa-me o visto. Dá-me a permissão:
quero-te amarrar as mãos aos ferros de uma cama qualquer, rasgar-te as roupas, bater-te com pétalas de malmequer. Afastar o pudor, aumentar o calor e desertar sem ouvir rumor. Quero violar-te os lábios e, superando a intelectualidade dos sábios, trincar-te tudo o que é ilegal, a bem ou a mal. Estende a toalha, falha no sistema de batalha.
Livrar-te de embaraços, prender-te os braços e prevalecer. Ou viver.
Escorraçar a ponte, passear-te além horizonte e satisfazer. Ou viver.
Carcomer-te o decote, beber-te do pacote e desfalecer. Ou viver.
Quero abrir portas, gritar com o orgasmo e ofender-te com notável entusiasmo.
Quero escavar-te, amar-te, elevar-te, apaixonar-te.

«jd»

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Universo

O inicio e o fim, a criação e a destruição, o criador e o destruidor, a Génese e o Apocalipse. A paixão nasce com o Alfa, mas não tem de ir até ao Ómega. A paixão não precisa de acabar só porque começou. Deixemos a nossa vida, que é finitamente esplendorosa, acabar. E nem o fim da vida significa o fim da paixão. A paixão continuará a vaguear como um múltiplo comprimento de onda, a paixão será rápida e poderosa como duas partículas de fotões. Resistirá a temperaturas e a variações de radiação. A paixão nasceu com o nascimento do universo. Brotou, aliado ao espaço e ao tempo. Proveio do nada. Expandiu-se para nos englobar. A paixão faz parte do Big Bang, mas não terá de chegar ao Big Freeze. A paixão não diz não, nem tão pouco diz nem. A paixão nasceu com a saudade do beijo, com a imortalidade da imagem facial, com o teu angelical toque. Vive e não morras em mim. Vive para a eternidade. Sê superior ao Criador, ao Senhor, ao Deus. Vive além de mim, para que me possas proteger sempre. Sê a minha gravidade, para que eu nunca me separe de ti; sê a minha força eletromagnética, protege-me das telepatias alheias; sê a minha força forte e a minha força fraca. Sê mais que deusa, sê toda a minha natureza.

«jd», dedico à minha Patrícia.

sábado, 1 de setembro de 2012

Lua Azul

Porque nos desejamos,
queremos-nos sós
e nos queremos nus.
E fazer jus à nossa pouquidade da indecência,
havemos de jorrar e jogar em excelência.
Atenta-me: é fruto demais delicioso
para cintilar na inércia do repouso.

As tuas roupas e os teus aromas
sobre meu quase rústico sugar.
O vagar, o devagar e o divagar;
primos da cisterna que nos enche.
A chama, a pegada, o enaltecer do ar.
O destino à luz do furacão que nos preenche.

Enfurecemos os Deuses da vanguarda
com o nosso respirar matinal de sábado.
Ao pequeno-almoço descobrimos
que todo o amargo pode ser também salgado.
Mas não há noite alguma em que a lua cheia mais brilhe
o glamour da comensuração que nos equipe e artilhe!

Oh, mas esqueci-me de te inventar deitada no meu chão,
porventura perdi-me na incorporação da tua imensidão.
E dispo-me sobre o teu nome e sobre tudo,
sem me julgar mais capaz do que realmente sou.
Ai céus e réus... Sim! Apaixonado estou.

«jd»

sábado, 25 de agosto de 2012

Invento-me

Seremos tu e eu, sempre só dois ou sempre só um,
só três vagabundos perdidos num vazio incomum.
Abandonaremos fantasmas apadrinhados,
tal como os leões bravos e assanhados.

Nesta casa, neste incolor habitat
mergulham leves bichos num ar denso.
O nosso romance tem de tudo o que bonito há,
menos pouco muito pequeno pedaço suspenso.

E quando as lágrimas correm para o mar,
evaporam-se, bem antes de conseguirem lá chegar.
Já que o nosso amor abrasador ergue-se somente,
como uma formosa flor, apartir de uma ordinária semente.

Invento então a perfeita conjunção,
a mais que extraordinária fusão
do que diz respeito à nossa paixão.

Aos teus olhos,
invento-me.

«jd»

domingo, 19 de agosto de 2012

Dádiva Doada

            A pesquisa dá inicio à procura. Procuramos sonhos quebrados, terras escondidas, casas inflamadas e causas perdidas. Procuramos monstros encantados, fadas mutiladas. Remexemos baús com memórias açucaradas, com variadas infâncias mascaradas. O homem engravatado surge aos olhos da criança. A mulher de buço novo abraça-te com confiança. A varicela não te mata, apenas reveste. O vento não te adoece, é só um protótipo de peste. Brinca com as palavras. Junta os cubos. Forma simpatias, sublimes sinfonias! Sê mais de ti. Não és um software estragado. Excede-te, vicia-te. Procura o amargo, evita o doce. Odeias o espargo, energia precoce.
           Planeamos um futuro equacionado na razão dum passado injuriado. Somos obrigados a presentear o presente com a força de querer viver sempre um pouquinho mais. Pouco mais devemos vogar senão pela congratulação da dádiva que é viver.
           Viver é o dom.

«jd»

sábado, 18 de agosto de 2012

Pesquisa

Há um trapézio, uma balança, um equilíbrio, uma droga enfim, qualquer coisa aonde te descontrolas. Há uma passada de valsa que desenhas mal consecutivamente. Há toda uma logística inanimada no chão que pisas. Há pedaços de ar partido, dispersados pelo chão em teu redor. Olha-os. Sê vigilante. Há peças de quadro à posteriori mal pintado. Repensa isso. Há cicatrizes de oxigénio que desperdiças, sempre haverá. Tempo largado que enfraqueces. Papoilas soltas ao mar, como aviões incontrolados flutuando num referto divagar. Há também insetos que irrompem pelo chuveiro onde te banhas. Há de tudo meu amigo. E nada disso pede egoísmo. Pede copos partidos, tanto o queiras. Pede manchas que se apregoem ao povo. Pede sinais feios, sílabas certas, corações amargos e finais felizes. Palavras baratas, todavia acertadas. Não me pede a mim. Não pede este homem; um homem, nem tão pouco pede dois. O que achas? Não pede nem um batalhão deles. Pede confusão! Caos, instaurado numa trincheira que dispõe aliados que se atormentam: o homem, mais a paixão que o rebenta do peito para o exterior. E o salgado das lágrimas? Não existe. É ficção. É uma espécie de micro-novela inventada por cérebros um pouquinho disfuncionais. Há sempre um livro que nunca abrimos. Abrimos outros então, não é? Há sempre paixões como livros. Há sempre livros como paixões. Paixões que contam livros. A paixão não precisa de banda sonora. A banda sonora não tem de suportar paixões. E as paixões não suportam flexões mal comportadas. Não faço parágrafos porque não há coisas concretas a dizer quando escrevo. A prosa aparece sistematicamente ofegante, quiçá, talvez viesse de uma corrida. Ou, se me permites refletir melhor, acho que a prosa esteve a chorar. A pesquisa começou.

«jd»

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Contra-senso

Não precisas gostar de mim
e de todos os meus laços.
Não necessitas querer-me suportar
e seguir todos os meus passos.

Tens de me deixar arruinado
a um canto mal arrumado,
por ausentes duros momentos a solo
cedendo-me a um ventre sem colo.

Senão imagina, fico doente.
Doente de mim, não enfermo de ti.
Doente pelo que recentemente
me descobri. De ti.

De ti, de tu. És tu. És tudo.
És tudo, e tudo mais para mim.
Ambiciono mais para ti que só me teres.
Não te contenhas. Não me tenhas.
Eu trato de mim,
sei que só viverei
até ao nosso fim.

Sou contra-senso pleno
e demais intenso.
Sou a aura que flutua
sob o que já não penso.
Sou ambiguidade, nostalgia.
Incessante hemorragia.

Sou músculo vermelho quebrado,
sou mágico recém-chegado.
Mas deixa-me, que te quero mais melhor!
Quero-te tanta sorte mais, maior!

Venero-te principessa,
como se fosses a mais
funcional engenha peça.

És, tanto como sempre serás, a vital peça da ignição.
A que liga o meu complicado circuito ao teu descuidado coração.

«jd»

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Agonia

É uma imácula saudade na ausência de competição,
que eu sinto e que, de futuro, tão amargamente, não pressinto.
Absorto em si mesmo, o meu beijo introvertido não deixa de ser tímido.
Desconectado nos demais, o teu lábio faz-me esquecer a dor e o gemido.

É uma dor possante que me invade cem, e sem intervalo.
Corre, salta; voa com a suprema elegância de um cavalo.
Abrupta-me como um suspiro crivado e mal exalado.
Enforca-me como um estilhaço de alçapão mal trancado.

O meu?
O globo deslumbra mil, a corda não depõe duzentos.
A caixa recetora desencaixa trezentos péssimos códigos matriz.
Também não identifica nulos bandidos com duros punhos cimentos,
nem tão pouco degusta ventos como se tratasse de um humano feliz.

Sangue velho corre por canos abusados.
Milícias recrutadas, bando de desgraçados.
Bando dos expirados de graça. Desgraçado eu,
que ainda aguardo o nosso alto apogeu.

Nada em vão, magoa e mata, o desenho animado.
Perigoso o fogo que nos une de tão culpado!

O ciúme intermédio neste espaço repleto de assédio,
deixa sempre rasto de motor com potêncial ruído médio.
Mas atenção! A sua concisa e justa passagem
no fim evapora-se tal a leveza de uma miragem.

«jd»

domingo, 29 de julho de 2012

Orquestra

Livre como os pássaros depilados,
com mãos e pés transpirados.
Sou lenço branco e escuro de guerra.
Sou solto de voz e preso às recordações da terra.

Sou sonho nascido no opor à foz.
Sou sentimento, ternura no retorno da voz.
A fraca voz largada na falta do timbre pardacento
implode na mistura de auras esquecidas ao relento.

Mas eles são homens e elas mulheres,
e eles são crianças.
São ovação atrás de ovação,
máximos pilares da grande criação.

Somos todos uma orquestra sintonizada na rádio da arquitetura,
somos a facilidade de infligir simplicidade numa só abreviatura.

«jd»

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Embriões

Tenho um, mil amores rasgados,
tenho dois, mil sonhos mal pensados.

A paixão e o sonho são inconstantes produtos,
embriões que provêm da mesma matéria.
Na véspera colidem-se e seduzem-se,
hoje desmaiam pela sua tamanha miséria.

Amor rasgado, se me vires um dia ao descampado,
liberta-me e aguarda com paciência por resultados.
Não sou homem nenhum se insistir em viver sem autonomia,
ou animal algum se não sentir um pedacinho de nostalgia.


Ainda não encontrei o meu posto em combate,
como hei-de eu servir os interesses da guerra?
Se deixei amores suspensos num imaginário resgate,
como me imunizo da saudade em serviço da terra?

«jd»

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cordas

O que é amar, se não sei amar?
Onde desencaixa o coração?
Como saber o que é explodir por dentro,
sem sequer eu saber onde é o seu centro?

Questões, malditas indagações!
Bárbaras e extenuantes equações
sem repugnantes funções relativas.
Quais minúsculas indecisões nocivas?

Dou possantes voltas e voltas à corda
que suspende o meu explosivo respirar,
aguardando a ofegante e eloquente falta de ar.

Cordas que me trespassam tanto peito, como gargalo.
Amarras que não permitem qualquer abrasiva margem de fuga
por uma boémia vida vivida sem anuência a um modesto intervalo.

Mas se eu não sei sequer amar,
quem sou eu senão um enfezado túrbido?

«jd»

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sete

Sou o cavalheiro dos tempos modernos,
fala para esconder, esconde para falar.
Acompanha novelas misteriosas
peca por querer sempre guiar.

Recomendo, emendo e entendo.
Aviso, alerto, aperto e atendo.
Sou o pai dos órfãos mal esclarecidos,
protegendo-os de serem pós-esquecidos.

Toda a gente sabe que o coração partido é preto
e que o preto é a cor do adultério secreto.
Pois se tens o coração de tom negro triste
também tu já o sentiste e traíste.

São quadras sem quintos efeitos
sextos sentidos ou setes de morte.
São rimas antiparalelas e versos suspeitos,
pedaços de face descolada dum passaporte.

Abstive-me para libertar o teu vago arbítrio, só
porque cansei a minha imaginação titã a salvar-te.
Se um dia cederes e corroborares,
prometo que passarei a amar-te.

Um dia abandono-te na temerosa selva sem te opor,
onde poderás ficar livre das malévolas manhas do amor.

«jd»

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Fugir

Há barulho nas cabeças que não pensam,
temores cerebrais nas decisões que dispensam.

Eu e tu somos vasta parte
da pesada parte daquilo que a vida nos dá
e da leveza proporção com que ela nos tira.
Somos os sonhos caídos numa encosta,
e os pesadelos inquiridos sem resposta.
Somos abatidos pela arma empunhada
ao paladar do alvo ou ao sabor da mira.

Nada sobra senão apressadamente desertar daqui,
para libertar os corações que já não mais batem.
Emagreço a paixão, florescendo pouco aqui e ali
descodificando dissabores dos amores que se partem.

Fugir é a solução aquosa,
para por delicado ponto final
à incerta paixão desprimorosa.

«jd»

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Açucaradas

Jura que me mentes sob infinitas doses,
com açucaradas mentiras amargas
nas tuas alteradas e esguias poses.
Oculta-me franzinos pecados banais,
sobre tratados de saudades tão e tais.

Cuida de falsificações prematuras
que se me valham a pena,
porque no espectro teatral
toda a bala é dramática cena.

Entrega-me a alma que eu
recolho-te as mentiras.
Dá-me de nada um pouco de tudo,
por favor dá-me, ao passo que tiras.

Jura, sem nunca me prometer,
beija-me, sem nunca me entender.
Ri-te e adormece com lágrima no remorso
deita fogo à parcialidade do corpo e do dorso.
Cheira maus sons sentidos, questiona maus bons partidos.
Amo-te, eu sem igual, sou mistura de bondoso com brutal.

«jd»; Rui Veloso e todas as suas dinastias poéticas são,
e sempre serão, uma autêntica inspiração para o João.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nutrição

Um dia recolherei desprimorosas asas
e tão prematuramente morrerei virilmente voando.
Quiçá até um dia ganhe um par de técnica com engenho
e levantando, te morra erroneamente pintando.

Mas jamais espero um dia morrer desiludido,
pela tamanha confiança e ilusão te ter investido.

Porquanto a velha amizade é um gritar a plenos pulmões,
e os emplumes somente com efusivas astúcias ganham meus perdões.

Nutro fins sem fins, memórias tristes e ruins.
Encaixo e desencaixo a caixa bem encaixada.
Sou a consciência perdida no tempo e na ausência.
Sou o teu anjo bom, angelical e fraternal.
O meu nome é auspício da retidão imaterial.

«jd»



domingo, 8 de julho de 2012

Sinédrio

É na história que escrevo a escória
das almas livres do pavor, receio e temor
no qual se torna todo e qualquer solto amor.

E é nessa fugaz ilustração,
que rimo; sem sinal de intencional
fuga do Sinédrio tribunal em perdão.

Amo-te como manda o preceito,
amo-te, tão vernaculamente amo-te.
Escapo pela parte de dentro do vinho,
como quem foge pela parte de fora do preconceito.
Renasço da felicidade, desrespeitando o Ser perfeito.

Escuto vozes, pássaros e gruas partidas,
palavras blindadas com fervuras sobre o amanhã.
Já dei importância a más regras restauradas e assentidas
hoje mereço-te por ser o herói que te trata todas as feridas.

Desenho gargalhadas simples, entretanto molhadas
sob telas vendidas ao calor do frio na esquina do mundo.
E por todas as andantes marés jamais ou nunca senão passadas
reencontro a paixão feita refém nas penúltimas jornadas.

«jd»




domingo, 1 de julho de 2012

Expedição

Há parciais dias de fúnebre nevoeiro,
em que ninguém precisa de risos fáceis ou lentos
ou de pretensões dessumidas caídas por céus relentos.

O código moral é totalmente desfigurado
pela sagaz expressão de lábios descerrados,
ou pelas partes mais difíceis de seres mal consagrados.

A paixão ilumina caminhos que até então eu só desconheço,
planícies, vales e montanhas maiores que a minha convicção.
Todavia sou eu quem dá o pioneiro passo mais árduo,
assumindo a liderança dessa inexplanável expedição.

Essas buscas que não terminam com a morte,
dão azo a crenças ainda maiores que a da nossa existência.
Porque todos nós reclamamos por um bruto amor de excelência.

Quero ter-te adjacente a mim,
tocar-te apenas com a brutalidade do meu olhar,
abraçar-te só com a força do te presenciar,
mas no fim beijar-te só pela experiência de te degustar.

Tal coisa é para mim
o descobrir de um novo mundo.

«jd»

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Terno Desembarque

É uma autêntica sinfonia de cordas partidas
que volta a ressurgir nas voltas perdidas.
A historicidade do espaço-tempo imaculado e alado
é mais cortante que poder de cortar dum arame afiado.

A bola trespassa e rebola tal como a rôla chilra dentro da sua gaiola.
O coração mal bate perto e expressão vem à boca,
mas repensa, protege e vai para longe, aguardando a sua troca.

Nas imediações procuro um asilo para as minhas meditações.
Sou mais que incansável no que toca a esse aspeto,
mas não o faço sem ter o ter amor sempre por perto.

Então as limas mal limadas ficam lindas com cores de flores desvairadas,
as esperanças esperadas deixam-se esperar na porta das chegadas.
E no desembarque do avião vejo de sempre um pleno e cupido anão,
que me atraiçoa, me enfeitiça para com a mulher que amo sem mais senão.

Muitos emboscam a sua vinda com paciência, demais dedicação.
Súbditos honrados, mordomos de sua galante mansão.
Porém, no meio da multidão o seu holofote recai sobre o eu desequilibrado sujeito,
e na corrida - o abraço. No tropical aroma, enroscado fico no seu decotado peito.

E se o dia acabar hoje inoportunamente e sem eu lhe mandar,
ficarei contente por consigo ter visto os aviões levantar.

«jd»


domingo, 24 de junho de 2012

Pausa na Apara

Quando alguém te faz triste,
há imediatamente outro que te faz feliz;
essa é a vasta base da suave matriz.

E quando alguém não te faz feliz,
chora por agora, deita cá para fora,
viaja sobre velhas rotas de Leão ou Paris.

Embora não gostes das cidades ou até da região,
lembra que toda a sorte do mundo não se limita
a esperar pelo fortúnio do algoritmo dum cartão.

É, desse modo e sobre um eixo de criatividade
tão impingida pela grosseira força do pensar,
que suspiro pelas minhas boas ações racionadas
que todos decidiram de tal maneira sobrevalorizar.

Explora a ausência de integridade que arde em mim,
mas não acredites nem no valor, nem tão pouco no odor
da velha herdade pelo capataz perdida num território de jasmim.

Há sempre um momento especial, uma pausa, uma quebra na apara,
há uma pitada qualquer que corre desafogadamente pelo fundo da mata,
que tal não pára porquanto o coração dispara,
por tanto bater ritmadamente ao paladar da lendária serenata.

«jd»

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Génio

Não posso fazer com que me ames,
sem que pela força forçada,
o tirano coração me desarmes.

Isto porque o meu olhar não é terreno
e todavia a violência com que me sacodes
é bem mais que simples fenómeno nada sereno.

Não posso fazer-te sentir o abraço,
sem que vamos lentamente passo a passo.
Porque pressas vitimam os precipitados,
e eu nada desejo que sejamos pobres atrasados.

Não quero envolver-te demasiado,
sem que depois me apanhe por ti
a chorar em pleno, como que anestesiado.

Porque os aliados de guerra já não estão unidos,
só siameses almas vivem do mesmo lado do pátio,
e já nem essas se apresentam com belos vestidos.

As rimas já rimas não estão,
saem só por sair e apenas beijam o chão,
e dogmático, o monstro invade-me para nada dizer:
a velha expressão animal que não sabe como se reger.

O nosso amor é um telhado de vidro
que sem estar minusculamente partido,
consegue ser deslumbrante e abespinhado
de tão bom que é ser inocente e desajeitado.


«jd»

domingo, 17 de junho de 2012

Primeiro Ensaio sobre a Condição

As pessoas vêm de pessoas, os humanos também vêm de humanos? Ou os humanos tornam-se desumanos por serem maus humanos que advêm de humanos maus? Acho que há muitas questões das quais o humano, ou até mesmo a pessoa, evita perguntar-se. A herança genética faz maus humanos ou boas pessoas? Ou é o meio no qual se vive que determina a nossa qualidade como humano e a nossa quantidade enquanto pessoa? Eu enquanto pessoa procuro encostar-me aos bons humanos, para que me possa tornar um pouco mais vivo e parcialmente parecido com eles, porque todos temos mais de pessoa, de gente, que de bom humano. E ninguém se pode achar mais humano que outro alguém, mas todos podemos encarar quem é mais má pessoa. É um conflito natural de qualquer ser racional comparar sem parar. Porque pessoas há muitas, e "no meio de tanta gente, é difícil encontrar humanos". É, é assim é. Ser um ser humano é ser praticamente perfeito dentro de todo o paradoxo de imperfeição. E já que nem Deus é perfeito, porque todo o cristão sabe que até ele, superior ser imaterial, omnisciênte e omnipresente, precisou de 7 dias, ou seja 168 horas, 10080 minutos ou 604800 segundos, para poder criar algo do nada, como posso eu ser perfeito? Tento eu criar ideias do nada, do vazio, mas nenhum raciocínio lógico explica a origem do meu pensamento e do meu conhecimento. Nenhum conhecimento nasce do nada, então como posso eu ser superior ao Deus natural? Não, eu sou uma pessoa que procura deixar de ser gente para poder encontrar-me como ser humano, porque embora procure ser perfeito, sei que nunca hei-de ser vivo para me auto-confrontar e atingir esse meu objectivo. Ninguém é, ninguém consegue. Embora o meu pensamento seja emparelhado, desorganizado e pouco metódico, as dúvidas não me deixam de surgir e continua a não haver vivalma que mas exclareça.
Confesso que receio no meu maior intímo ter o destino traçado pelo poder do código genético, luto como um leão para todos os dias tirar tudo de bom do que todas as mais belas pessoas que me rodeiam têm. Mas quem me diz que o que eu acho que é bom e moral, não é na verdade pouco ético e errado? Vivo numa sociedade ocidental, e os ocidentais dizem-se dignos e corretos, mas só porque não matam e assassinam como os orientais e os islâmicos, quer dizer que são melhores? Qual é a sociedade suprema em termos éticos? A minha? Não, não é com certeza. Enquanto puserem pessoas a governar e deixarem os humanos sem poder de decisão, vai sempre reinar o capitalismo, a corrupção, a injustiça social; e todos os nobres, justos e verdadeiros defensores socialistas nunca irão ter uma voz. O povo dá a voz ao povo, e se todos somos povos (diferentes a nível cultural ou não, na minha perspéctiva não interessa para o caso), tá na hora da minoria parte do povo que governa os Estados ceder o seu lugar e oferecer uma voz ao povo que nunca lá esteve, e que decerto terá mais perícia. Já vimos liberais lutar por causas, e a seu tempo foram bem sucedidos. Esta é a hora daqueles que lutam por um lugar como humanos neste universo do Terrestre - do Ser Humano - de fazerem algo genuínamente humano e lutarem pela vida das outras pessoas, que igualmente lutam por sobreviver. A sobrevivência é algo muito animal, mas não será humano também?
Vamos todos ser boas pessoas e procurar a humanidade dentro de nós, porque ela está escondida à espera de salvação. A salvação somos nós mesmos. A nossa salvação é a salvação das pessoas que desesperam à procura de serem humanos, temos de as ajudar. E como? Vamos praticar ações morais, boas ações de acordo com a nossa própria lei moral, o nosso próprio imperativo categórico. Vamos realizar uma ação tão boa, tão pura, tão humana e tão honesta que queiramos que toda a gente adopte o mesmo tipo de ação. Desse ligeiro modo, todas as pessoas que nos rodeiam vão procurar ser humanas, agindo de acordo connosco, procurando reproduzir-nos. E nós faremos o mesmo. E toda a gente fará o mesmo, será todo um planeta a lutar pela mesma causa. Assim, todos seremos melhores pessoas, as nossas qualidades racionais e humanas vão fazer-se sobressair e já ninguém passará os dias com questões sobre o poder do ADN ou a legitimidade do poder do Estado; já que o meio, que sempre teve boas ou más influências sobre nós, hoje terá motivos para ser aplaudido, porque é límpido, transparente e bem feito. E ao tornarmo-nos humanos e vivendo nesse bom meio de se viver, também os nossos filhos nasceram humanos e serão humanos feitos e a fazer-se aos poucos, quer por vontade dos pais, quer por exigência do meio/sociedade, quer essencialmente por vontade própria e por amor ao dever. Depende de nós mudar, porque pedir esperança e ter fé nunca mudou nada na velha e usada condição humana, e o futuro necessita de mudanças na articulação de novas ideias e novas mentalidades.
Isto não é poesia, isto é o abandono temporário do pseudo-poeta e a encarnação do pseudo-pensador contemporâneo. Não passa de um comprido desabafo pessoal, podem entender ser uma doce perspética da evolução impossível da humanidade, mas é o pensamento de um jovem adolescente que insiste em querer ser revolucionário e que, dentro do seu próprio modo de ser, consegue.
Nem que seja só para si.

«jd»

sábado, 16 de junho de 2012

Brotar

Se é a paixão que nos faz mover,
se é o fogo que faz tanto molhar
é portanto a água que a faz secar.
Porque amar alguém superior a nós
é bem muito, muito mais que entreter,
é mais que deter, é mais que iludir, é manter.
A frangilidade com que nos temos na intensidade de alguém,
é sempre a que nos estorva e não nos liberta de ficar sempre aquém.
Aquém de meio mundo cheio de esquinas mal viradas,
e de esferas de nove lados, paralelas e desventuradas.
É o vinho picante que nos deleita pelas entranhas,
alimenta egos e ódios sólidos por ferir tais impressões.
As armas desligadas estão, o povo está às aranhas,
e os capitães já não sabem quais as faltas de sensações.
É tarde demais para virar o relógio do avesso,
as aventuras remetem para o regresso ao progresso.
O piano toca acelerado e o meu coração por ti foi amarrado.
Talvez a sua batida também forte esteja, e o futuro assim o preveja.
Acontece a reviravolta.
Surge o bicho que ladra, o vento que assobia, a intriga que desmente.
Brota toda a flor que sem se plantar, faz-se primeiro sob forma de semente.
Saudade passou de moda e já não se sente.
Já que saudade é tudo quanto nos magoa,
pretendo ter isso flutuamente e bem patente.

«jd»

terça-feira, 12 de junho de 2012

Atrito

Ainda bem.
As pessoas continuam a ser límpidas como a natureza,
a confrontar erros com elevada transparência e beleza.
Nem tudo mau é nas gentes que nos acolhem,
nem a forma nem no cuidado com que irrompem.
A incoerência e o arquétipo do modo como surgem na nossa vida,
só preenche mais vagas e vagões na falta de velocidade desta nossa corrida.
O seu iman só atrai mais o nosso vetusto metal,
a sua saudade mata-nos esta indizível fome animal.
A sua esperança faz arder em delícia a nossa retina,
fazendo bombear engenhos explosivos à porta da mina.
Esse engenho é a arte que não nos bate, mata,
não nos acalma, só nos extansia a nossa lagoa, castata
de revoluções emocionantes que só inflacionam o paupérrimo coração
de um jovem incendiário que no amor já só se revê em morta fricção.
Coitado, coitadinho deste miserável sortudo em busca de terreno prazer,
há espera de uma gigante pessoa que lhe faça o seu oscilante chão tremer.
O piano continua a ter as mesmas batidas e cordas de sopro trivial
que a doce e anã flor ruiva adora ouvir como no seu primeiro dia digital.
E a minha pateta e translucida paixão por esse rebento vegetal é em tal grau,
que não há prescrito céu cinzento que aguente minha fortuna durante o sarau.

«jd»

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Alucinado Pentágono

Cá estamos com novo espetro,
nova luz; raio que bate longe ao perto.
Respiro com palidez pela falta de rapidez
encontrando rigidez na alma vendida ao nudez.
Abano e faço tremer prédios sob a mercê do amor,
provoco inundações nos sóis onde te miro sem fulgor.
Eu já soube e saberei que toda a gente tem e terá projetos,
pois até um bom ferreiro sabe boatos mais insensatos e secretos.
E eu idealizei um duo de estrelas com as minhas carnívoras retinas,
planeei pentágonos desformatizados bem acima das muitas outras colinas.
Mas sou mau patrão, e não vejo nisto tudo senão um milhão simples senão:
o de incessantemente vir a cair onde já outrora insistentemente me vi fazer puir.
O medo não paga o que deve, nada se resolve por se fugir e por tanto se exigir greve.
Crença não larga o hábito, e o hábito não larga o padre que desfalece por ter enfermo hálito!
Vida farrista e boémia, toda a gente a tem; mas os grandes amores só aparecem a quem respira a cem.

«jd»

terça-feira, 5 de junho de 2012

Fuzilamento

A próxima vez que chorares, agradece.
A proxima vez que mentires, perece.
A outra próxima vez que atraires, retrai.
Porque a falta de sobriedade é tudo o que contrai.
Nos sonhos voam inumeros passageiros,
os assexuados anjos são maus mensageiros.
A memória nunca me faz ou fez falta
a noite foi criança mas já vai bem alta.
O sol agiganta-se do outro lado,
o céu é cinzento e empastado.
Rir do despacho mergulhando no riacho,
triste condição do etiquetado macho.
O circulo carece de juízo, critério ou harmonia,
a razão e discernimento ganham nova maldita mania.
Os amigos dão a mão, ouvem piano com a sensação
com que Deus ofereceu a terra e o mar a Eva e Adão.
Sentem o chão a ruir, as flutuações a descer e subir.
As bisnagas de luzes fogem e somem,
a carência de brilho e fulgor permite
que a preta droga que eles consomem,
tome o desastre e trate como urânio a dinamite.
Todas as cantigas fazem lembrar a repúdiante noite,
só espero que o fugaz satanás por aqui não pernoite.
Da próxima vez que puxares pelo cérebro, desliga.
Da próxima vez que bodega fizeres, suplica.
É mau demais para repetir,
e mau até para se fazer ouvir.
Mas a verdade acabará por vir à tona
deixando o rei falir da sua poltrona.
E a perfumada e vistosa rainha de toque solene vai atrás,
libertando um rasgado rasto de caminho que demos deixou aos demais.
Doce e rara elequêcia têm aqueles que nada refletem,
deixando outros dois na omissão por quem competem.
Esta é a história de vultos pseudo-aventureiros,
ou a saga do fuzilamento de dois legítimos herdeiros.

«jd»

sábado, 2 de junho de 2012

Báratro Enredo

Os escravos da vida são e da vida fogem.
Esvaiem-se da opressão.
Ou tentam. Cancelam ou pintam:
quadros desertos numa areia.
Intriga de gelo, ardor na teia.
Um gladiador faz por não transpôr.
Não pisa a linha, é um salteador.
Aceita a vida como um crédulo vegetal,
impugnando a morte como um animal.
Joga a mortalidade num xadrez incolor.
Cortina de varanda, ácido Ph de paixão sem amor.
É ator onde reinam os filhos dum colecionador.
Mas nada sabe de nada que não sabe.
Indaga pouco e pouco ou nada questiona,
porque sabe que da experiência da vida
tudo o que é duro trinca, morde e entorna.
Do alimento não abdica, nem sequer interroga.
E os escravos da vida são, da vida fogem.
Esvaem-se da opressão.
Ou tentam, ou disso se contentam.
Porque mais nada têm, nem dedicação alguma.
Saudação já quase pouca ou nenhuma.
São teus escravos e alimentam vicíos terrenos e amenos.
Mas também tombam e por isso te lançam viscosos venenos.
Oculta-se a fraqueza e coragem de um homem
quando todos os seus primários valores
como por um suspiro se somem.
Todavia a porta batida é sinal de irreverência
e a janela desabotoada é um visto de pouca inteligência.
O rapaz instiga-se por vastíssimos conflitos antigos,
discernindo unicamente quando o conflito futuro se aproxima.
Joga-se então uma faca de dois lumes sobre pratos partidos,
e o horror só patrociona quem ainda tendo derrota sai por cima.
Passo a ponte sem avisar ninguém.
Olha toda a gente, com notável desdém.
E todos os agrupados olhares,
mesmo sem de mim saberem,
castigam-me até não mais não.
A culpa, o delito, a desculpa, o grito.
Eu no centro do báratro enredo,
perdido por cem, perdido por bêbado.

«jd»

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Não é um Regime de Tropa

Sou humano de betão e desumano por dizer não.
Farejo entrigas como o vento nortenho,
viajo com o chão possuído, com o que não tenho.
Indago incontáveis vezes como o pobre animal,
procuro gasta vida numa terra além mágico portal.
Sou perfeito por estar em presente todo o lado,
sou suspeito por insistir em ser sempre delicado.
Humana condição que imanam os céus triunfais,
aguardando com desejo o ruir dos jovens mortais.
E eles que até nem me querem senão com pudor,
entre Júpiter e Saturno há imensas luas de autêntico valor.
Nem no espaço encontro senão um simples senão:
o de apenas te ver além do olho duma águia ou de um falcão.
Olho esse que nunca possuirei, e que por tarde tanto te pecarei,
por ser teu sem ser teu, por te ter valor sendo considerado teu judeu.
Reparo o irreparável sem a força da natureza,
julgando sem nunca julgar a disparidade da realeza.
Porque raínhas diferentes são a que comandam a vida de um súbdito
e entre a paixão e a razão há apenas lugar p'ra um coração restrito.
Sente-me na fuga, abraça-me no adeus.
Vou exilar-me aleatóriamente pela tua Europa
e, sem conflito de culpa, doar-me aos teus europeus.
Porque o amor não é um regime de tropa.

«jd»

sábado, 26 de maio de 2012

Dialetos da Ternura

Ela diz que me adora quando a noite vai a meio,
eu sinto-me melhor pessoa, menos fraco, feio.
Passa o dedo na rasta, com a mão bem suave,
encosta o lábio no ouvido e diz-me "Queres que a lave?".
Vamos para o chuveiro, ela flui e com a água,
lava-me a cabeça, a alma e qualquer resto de mágoa.
Diz como é o amor e dá um certo calor na barriga.
E consegue. Quero sempre, sempre ser
aquele nigga que lhe mete a rir.
quando eu lhe faço vir da terra
até à lua mano, é sempre a subir.
Somos grandes, gigantes, com dez metros de altura,
falamos vinte línguas, dialectos da ternura.
Água morna em pele quente, poro aberto não perfura.
Minha alma já está nua, faço-lhe uma jura.
Para sempre teu depois da noite volvida,
um segundo ao teu lado já preenche uma vida.
O conceito de tempo não entra na sensação,
aquilo que vivemos esta gravado no coração.
Segura na minha mão e continua a canção,
é a melhor que já ouvi, reinventas-te a paixão.
Ela diz que me adora quando o dia vai a meio,
o copo passa de meio vazio para meio cheio.
A palavra ganha vida e fala à minha frente,
sigo calmo atrás dela, deixo crescer a semente.


«Da Weasel»,
num ritual e tributo de saudade,
pela melhor amiga que me fez renascer sem idade.
Um grande abraço para a mulher que me ensinou
que a grande poesia é a que se respira sem se escrever,
e que a saga paradoxal que a vida se torna e é,
nos obriga a chutar as preocupações
com a força e estofo de um pontapé.
Para a Cátia, a Timon, a cupincha da bebedeira;
A cómica e crónica criança da asneira.
A amiga da minha vida.

domingo, 20 de maio de 2012

Intransigente Seleção

A imperfeição num ser humano
pode ser o mais cativante e sedutor
pode ser tudo o de mais formoso e encantador.

Não nos agrada a perfeição, a balada, o ritmo e o som.
Não gosto de mamíferos, não gosto de mulheres
enquanto o sol recolhe, por favor lua, não desesperes.

Pessoas tão perfeitas, deuses do Olimpo!
Nem num futuro, nem no já passado,
jamais irrefutáveis citações serão oradas
por debaixo da ponte, sob a vista dum eirado.

Não querem o meu cunho, a minha marca?
Continuem achando-se autênticos bestiais,
mas desacreditem em vós e só vós mesmos,
pois não passam de bestas encabeçadas numa arca.

Oh, nunca vão aprender nada comigo...
Nunca irão levar nada de mim? Oh!
Estou tão subcarregado por lastimados protões,
deformado em positividade de benignas ações.

Ouve lá, acorda e dorme de volta.
Chama para ti a chama que te deixa à solta.
Queima papeis, tortura e come esses tantos reis.
Vamos apostar; jogar numa purificação.
Vamos todos completar outra pessoa.
É pois, a vida come-nos, selecciona-nos.

«jd»

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Guerrilha Lusitana

No amor e na guerra,
inevitávelmente há sempre algo que se perde,
contrapondo com outra coisa que se vence.

No amor e na guerra,
há sempre histórias e memórias de sonos restaurados,
de fotografias bem queimadas e e rastilhos mal tirados.

No amor e na guerra,
eu falo com o homem do tempo e pergunto-lhe as horas.
Ainda tão tarde? Porque tão pouco te fazes e tanto te demoras?

Bom, o amor e a guerra
são palcos das maiores e avultadas ameaças terroristas.
É o lugar, a cena onde o blindado herói sempre nos acena.

É pois no amor e na guerra
que descobrimos a força dos pulmões, a eloquência para revitalizar as nossas emoções.
Onde empenhamos a espingarda descravada, desferindo profundas e loucas feições.

Então confesso que no amor, ou na guerra,
descubro-te sempre um rasgado sorriso num idoso e desusado plátano,
broto da inibição, aproximo-me - nomeando-me teu lusitano apaixonado.

«jd»

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Há Dias Assim

Ter-te-ia de baixo do meu braço e ombro,
de cabeça pouco ou nada erguida
à margem dum velho escombro.

Olha pensa em tudo, mas se dúvidas amontoas
confessa os teus intelectuais crimes
mas depreende que muito me magoas
com esses teus falsos estados sublimes.

Nédia e solta, de cabelos largos e largados
num regime insustentável de simples beleza,
heis que surges tu efeitiçando oxigénios usados
no fundo da furtada avenida portuguesa.

Oxidas ferros, ferrando homens pela tua travada travessia
e emanas magnésios com uma elegante monotomia.
Mas olha que eu atormento-me de agonia
pela capacidade que me tens de pontaria.

Um dia sim, direi a todos que te amo.
Falarei das noites em que sem parar te sonho,
e que minha deusa te reclamo e proclamo.

Vivemos vidas em universos paralelos,
eu sobrevivo humildemente com meu pão de trigo
e tu com riqueza de teus romanescos castelos.

A impossibilidade que nos fixa um ao outro,
nada mais é que um renascimento de um mutante poldro,
que regressa a um mundo onde a submissão à demais escuridão,
nada animam um desanimado homem fraco de paixão e emoção.

«jd»

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Carta Patente

Sabes que faria tudo, quase tudo.
Faria tudo e teria tudo
para te ter um pouco de nada.
Resgarda-te-ia do vento,
num agarrar suave e lento.

Protegeria a tua pele de prata
com um qualquer
genuíno ouro de sol.

Limparia-te as olheiras matinais
enquanto te arrumaria as tuas tristes
memórias no barco estacionado no cais.

Comeria-te as remelas
caídas pelo chorar noturno.
Auscultaria-te as vísceras,
procurando sons de saturno.

Choraria do teu riso,
ombro junto ao ombro
e rir-me-ia do teu chorar.
Viveriamos fixados um no outro,
e unidos averiguariamos
a perfeita forma de amar.

É a carta que um dia te escreverei.
Quando fosses minha eu saberei?

«jd»

terça-feira, 8 de maio de 2012

Zarpando no Cristal

Tento zarpar e escapar-me no meu paquete,
bato bolas e quadrados com o auxilio de uma raquete,
vejo mergulhos profundos, fundos de mágoas esquecidas,
abandonadas à mercê do leito do rio onde vim dar.

Encravei numa molhada página descodificada.
Linha sobre linha é uma azul meta quadrículada,
Montes e montes de uma enorme maré de cristal,
miro ao longe o farol, o brilho e o cintilar do litoral.

Podia contar luas e luas,
planetas, estrelas e astros.
Podia tentar-me e partir-me em aventuras,
partir em barcos e viver sob quebrados mastros.

A vida é um remo cor de nada,
de nada tem o breve tudo,
e de tudo esvai-se num reto
mar de estrada.

Procuro o pedaço de terra onde te deixei,
descubro-te sob faíscas de água onde nunca te ousei.
E absorvo o salso ar para ti. Diz então, faz e sorri.
Que a vida não está para mim no que a vida para ti está.
Sou audaz capataz de uma embarcação sem destino,
percorrendo leitos e oceanos por ser teu peregrino.

Vida faz-se de palavras bonitas,
escritas e ditas na ponta da mão.
Por favor, se um dia um novo amor te aparecer,
espera por mim que perdido estou na banheira de deus
e não lhe digas que sim, mas não lhe digas que não.

«jd»,
uma solicitada encomenda
pode sempre precisar
de uma ou outra emenda.
Para a Rita, que se decidiu
e neste pseudo-autor lá investiu.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Berço da Abóbada

"Se não sorrires para a vida, ela nunca sorrirá para ti"
Assim consenti um espírito novo para mim,
pois do velho eu mal ou bem me exprimi e fugi.

Como o arco não abraça a argola,
o passarinho não foge da gaiola.
É então numa gaiola que eu duplamente coexisto,
há medida que do outro lado o fiscal me solicita o visto.


Esse medo não me faz a coragem querer quebrar,
porque profundamente eu sei que a grande luta interior
é colidir e topar a forma mais eficiente de te poder amar.


Mas no fundo, no fundo
lágrima derramada sob cólera acesa
torna uma mútua descompatibilidade
sem qualquer regalo ou surpresa.


Nesse profundo fundo é onde me questiono,
interrogando-me sobre factos factuais,
deliberando-me sobre a minha vida
e quiçá inclusive a dos demais.


E demais não é de ganir e pedir,
que na simétrica e vertical espiral
onde te encontras neste momento,
talvez me possa eu fazer subir e medir.

Mas então o empolado amor fracassou
porque o cupido tanto e tanto se esforçou,
mas a água dos cerrados tetos sobre mim se precipitou
e assim o deus do amor apenas a um dos dois pássaros acertou.


Pois em cada "L" de esquina
onde que vejo um arremessado casal amigo,
extraordináriamente lembro-me sem memória
dos meus tantos luares vividos ao desabrigo.


Já não mais lá estou.


«jd»

domingo, 29 de abril de 2012

A Ternura Prescreveu

Tenho medo de envelhecer,
sentir a vivacidade a perecer,
rugir por ter os músculos a prender,
distinguir os olhos e ouvidos a gritar e a doer,
subitamente escorregar por ter os ossos a quebrar
ou ambiguamente já não saber por que rua andar.

Tenho medo de envelhecer,
de formular memórias para prontamente
e involuntariamente as fazer esquecer;
ou de sonhos ser forçado a desprender.
De me converter num hipocondríaco ou desacreditado,
invariavelmente maníaco ou despedaçadamente resignado.

Tenho medo de envelhecer,
e não ter sonhos já realizados
ou outros imediatamente idealizados.
"O que os novos podem
e nunca fazem, os velhos
querem e nunca podem".

Tenho então medo de envelhecer
e junto ao meu lado não te ter.
Porque ter-te ao pé de mim,
é como ter uma suave e metálica flor de jasmim,
que enquanto tiver perfume e odor,
valerá pelo seu interior e exterior.

«jd»

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Avenida

Na jornada que tão singelamente se estreia,
busco-te abaixo duma pedra minéria de carvão
que estrepitosamente se me excede,
fazendo triagem de tudo o que de
relevante e irrelevante nesta aldeia se perde.


Dois sorrisos negros numa única alma clara e mútua
gosto de ti como novo Sol precisa da penumbra da velha Lua.
Do trigo vem o pão;
donde a tua brava e flava coragem
revela um pequeno coração de leão.


Aurícula e ventrículo meu que por ti
bate a cem mil quilómetros por hora,
esperando ver-te na prisão
do prescrito diário da nossa paixão,
todavia do apetecido lado de fora.


O sol nasceu, já ganhei o dia;
poder mirar-te a cinco metros de mim,
tão delicada, verde e esguia.
És bela, tão bela vela acesa, bela de tão tu,
tão mais como de teu cheiroso corpo delgado e nu.


És mulher de tão airosa faculdade possante,
não vendes a minha íntegra alma a ninguém,
isso seria com desvirtude singular e quiçá até pouco elegante,
para alguém que ocupa o mais belo palacete
da principal avenida de Santarém.


«jd»

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fisiognomonia

São múltiplos jardins de silêncio ensurdecedor,
luto sobre esgrima malhada contra nobre meu interior.
Pois então colido frontalmente com a miúda do alfarrábio,
atrapalhado então, adivinhando o nome e investigando-lhe o lábio.

Todavia agora trocamos carícias e delícias até,
vemos passar as horas do senhor relógio
ao sabor de um poema, ou inclusive de um bom café,
horas infinitas porque o apimentado tempo
promete impremeditadamente por nós não passar.

Chocolate amargo sob a tua epiderme,
és adrenalina minha, és tudo o faz, tudo o que treme.
Estou nu de encantos pela apreçada rapariga
do cabelo cor de trigo e do vestido verde-jáde,
ausento-me dos meus vastos complexos de animalidade
e transformo este descortês ser num dócil humano de amor em cantiga.

Hoje empenho e trato da ferida
para amanhã voltar ao combate.
A rixa é torturante, fisiocrata e desmedida
o trocadilho de olhares dispõe-se num desempate.

Sei-te os laços e cansaços da vida
pela pétala de rosto que tão bem te topo.
Embarcaremos no aventureiro avião
do ardente e enchente Absinto no copo.

«jd»

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Fracionado

Ando rigorosamente andando.
Injustamente ando vagueando,
cobrindo as solenes estradas e largos
com uma lenta passada
desprovida de entanto.

Cinco dez minutos de raiva
introvertida, torta e paralela.
Uma vida em fração incomplexidada
há procura de um anjo criatura junto à janela.

Há pouco tempo aprendi que todo o certo,
é o lado errado da minha filosofia
e que o choque entre corações e paixões,
já não mais se faz sem uma pitada de magia.

Deprimo sobre a felicidade,
onde atos de deuses na terra
não decaem sobre qualquer
pasmo ou entusiasmo de bondade.

E vivo assim - prometedor e risonho.
Aguardando o provável fim do meu sonho.

«jd»
dedico à minha Patrícia,
a Mulher. A mulher que ofusca
e insiste em manter este sonho em delícia.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Separo-me do Outono

A Primavera e a frescura da tua rejuvenescência
ataca e estrangula o Outono do meu ensaio de imprudência.
Enches o cálice e repões o sangue que outrora me sequestraram,
preenches espaços vazios com vida, que os desleais sonhos tanto me adiaram.

O vento bate nas folhas à velocidade com que
o meu peito explode pelo teu coração,
e nem com todo este frio,
eu por ti perco a minha paixão.
És duro musgo na minha viscosa rocha.
Anexas-te a mim, aos outros permites o escorregar
e proteges-me da forte brisa do ar e do mar.
Fazes juras de amor em despedaçados horizontes.
Ligas os nossos interesses por longos túneis e pontes.
Milhares de pequenas cascatas perturbam tão lindo rosto,
onde a vacuidade se descompleta com lágrimas.
Respeitas-mee descarregas-me de qualquer imposto
que por ti estar encantado pendurei às minhas lástimas.
Entre simétricos cálculos sobre a atração humana,
resguardo-me de tudo o que a virtual tentação imana.
Os laços e correntes prendem-me agora furtivamente a ti,
já não mais me lembram as garras ferozes das quais eu fugi.
E tu aí - rica e ruiva; como deusa escapada de uma penúria.
«jd»

domingo, 15 de abril de 2012

Esfera Feérica

Suspiro sem vacilar sob universos enormes,
deparando-me com inumeros desamores uniformes.
Vou disparar e dar um tiro na mão ou no pé,
mas fazendo tudo de bom sem perder a minha falta de fé.
Num firmamento uniformemente nublado
revejo o teu rosto em todas as núvens desformes
sentindo em cada minúscula partícula do enevoado
as mais pequenas gotas de água em que possivelmente te tornes.
A interação entre o tempo e espaço é tudo o que nos liga,
conecta-nos como discos perdidos num mar á deriva.
A linha que separa o pecado do teu recado
é o amado ou fastigado doce luar.
Amor é onde me amaluco,
nas horas cinzentas e escuras
do tratado de poesia em lusco-fusco.
Perco-me em ti por 5 noites e 5 dias,
são beijos e carícias de um anjo
perdido num cosmo sem arranjo,
onde só habita o sentimento transacionário
de um homem que vacila por ser seu mercenário.
Mas em contratos bem ou mal assumidos,
delicadamente tropeço cada um dos olhos
por todas as quebras reminiscêntes
de minhas memórias de teus toques ardentes.
Quero tirar-te fotografias enquanto dormes e descansas os olhos
tornar-te ilimitadamente minha, tornar-te parda e delicada princesa,
rasgando com o meu imaginário todas as tuas interiores roupas e folhos
enchendo até o quarto de velas, preparando-te uma ópera à surpresa.
Sou eu, um veterano de guerra
encalhado numa tempestuosa terra
onde a imunidade da saudade saúda os amigos
e me deixa a mim à mercê do calor dos abrigos.
«jd»

terça-feira, 10 de abril de 2012

Histocompatibilidade

Tenho um incerto e um escasso, porém ritmado medo de que todo o teu sorriso em explendor anule toda a minha carga negativa que possuo por ser um jovem deliquente escritor. Em desventura contradição, tenho ainda um outro vulgar prepósito de te ver sorrir mais e mais infinitas vezes, para que isso alimente esta fera, que já não mais vive sem esboços de perfeição do que a felicidade assim te representa, ilustra. Por dentro de toda a descompatíbilidade que sei que qualquer amor e paixão representa entre nós, gostaria de rascunhar confidências contigo, enquanto as nossas mãos de unem ocasionalmente e os nossos olhos esquerdo e direito se unem quer pela esquerda quebrada, quer pela direita erguida. Da Lua já só quero o eixo que nos liga pela noite fora, enquanto conversas aparentemente intermináveis terminam onde o meu novo sonho começa. Desligado por breves e vencidos restos de tempos desanimados, volto a entregar-me novamente em sonhos à pessoa que me viu adormecer. E nesse permaturo momento garantidamente tens-me para ti em absoluto. De mãos presas, uma há outra, somos capazes de provar a todos o valor do nosso ardente e irrefutável amor fundo e domar um mundo, que insiste em não nos ter como par sensação e tão imortalmente luta contra nós até ao nosso pecado e redenção.
Toda a ambiguidade do desamor que nos une em cordas soltas na traição e que assiste ao nosso escalar, em profundidade, de uma montanha que não tem fim e que rasga o céu; rasga e magoa de tão elevada que é; porque quero-te conduzir a um anexo pequeno no desmedido céu onde só as mais brilhantes estrelas têm acesso.
Na medicina o conflito sempre haverá. A rejeição de um órgão que não pertence ao corpo estranho no qual os médicos pretendem administrar. E no amor? Haverá guerra entre o teu corpo e a minha estranha alma? Acredito piamente na histocompatíbilidade entre as nossas perspectivas e virtudes. Decerto não vivo eu em total desacordo comigo ao ponto de formular ilusões segundas e terceiras vezes sobre tão desiguais segundas e terceiras pessoas.
Por isso garanto: um dia destes a ti aventuro-me. «jd»