segunda-feira, 25 de junho de 2012

Terno Desembarque

É uma autêntica sinfonia de cordas partidas
que volta a ressurgir nas voltas perdidas.
A historicidade do espaço-tempo imaculado e alado
é mais cortante que poder de cortar dum arame afiado.

A bola trespassa e rebola tal como a rôla chilra dentro da sua gaiola.
O coração mal bate perto e expressão vem à boca,
mas repensa, protege e vai para longe, aguardando a sua troca.

Nas imediações procuro um asilo para as minhas meditações.
Sou mais que incansável no que toca a esse aspeto,
mas não o faço sem ter o ter amor sempre por perto.

Então as limas mal limadas ficam lindas com cores de flores desvairadas,
as esperanças esperadas deixam-se esperar na porta das chegadas.
E no desembarque do avião vejo de sempre um pleno e cupido anão,
que me atraiçoa, me enfeitiça para com a mulher que amo sem mais senão.

Muitos emboscam a sua vinda com paciência, demais dedicação.
Súbditos honrados, mordomos de sua galante mansão.
Porém, no meio da multidão o seu holofote recai sobre o eu desequilibrado sujeito,
e na corrida - o abraço. No tropical aroma, enroscado fico no seu decotado peito.

E se o dia acabar hoje inoportunamente e sem eu lhe mandar,
ficarei contente por consigo ter visto os aviões levantar.

«jd»


domingo, 24 de junho de 2012

Pausa na Apara

Quando alguém te faz triste,
há imediatamente outro que te faz feliz;
essa é a vasta base da suave matriz.

E quando alguém não te faz feliz,
chora por agora, deita cá para fora,
viaja sobre velhas rotas de Leão ou Paris.

Embora não gostes das cidades ou até da região,
lembra que toda a sorte do mundo não se limita
a esperar pelo fortúnio do algoritmo dum cartão.

É, desse modo e sobre um eixo de criatividade
tão impingida pela grosseira força do pensar,
que suspiro pelas minhas boas ações racionadas
que todos decidiram de tal maneira sobrevalorizar.

Explora a ausência de integridade que arde em mim,
mas não acredites nem no valor, nem tão pouco no odor
da velha herdade pelo capataz perdida num território de jasmim.

Há sempre um momento especial, uma pausa, uma quebra na apara,
há uma pitada qualquer que corre desafogadamente pelo fundo da mata,
que tal não pára porquanto o coração dispara,
por tanto bater ritmadamente ao paladar da lendária serenata.

«jd»

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Génio

Não posso fazer com que me ames,
sem que pela força forçada,
o tirano coração me desarmes.

Isto porque o meu olhar não é terreno
e todavia a violência com que me sacodes
é bem mais que simples fenómeno nada sereno.

Não posso fazer-te sentir o abraço,
sem que vamos lentamente passo a passo.
Porque pressas vitimam os precipitados,
e eu nada desejo que sejamos pobres atrasados.

Não quero envolver-te demasiado,
sem que depois me apanhe por ti
a chorar em pleno, como que anestesiado.

Porque os aliados de guerra já não estão unidos,
só siameses almas vivem do mesmo lado do pátio,
e já nem essas se apresentam com belos vestidos.

As rimas já rimas não estão,
saem só por sair e apenas beijam o chão,
e dogmático, o monstro invade-me para nada dizer:
a velha expressão animal que não sabe como se reger.

O nosso amor é um telhado de vidro
que sem estar minusculamente partido,
consegue ser deslumbrante e abespinhado
de tão bom que é ser inocente e desajeitado.


«jd»

domingo, 17 de junho de 2012

Primeiro Ensaio sobre a Condição

As pessoas vêm de pessoas, os humanos também vêm de humanos? Ou os humanos tornam-se desumanos por serem maus humanos que advêm de humanos maus? Acho que há muitas questões das quais o humano, ou até mesmo a pessoa, evita perguntar-se. A herança genética faz maus humanos ou boas pessoas? Ou é o meio no qual se vive que determina a nossa qualidade como humano e a nossa quantidade enquanto pessoa? Eu enquanto pessoa procuro encostar-me aos bons humanos, para que me possa tornar um pouco mais vivo e parcialmente parecido com eles, porque todos temos mais de pessoa, de gente, que de bom humano. E ninguém se pode achar mais humano que outro alguém, mas todos podemos encarar quem é mais má pessoa. É um conflito natural de qualquer ser racional comparar sem parar. Porque pessoas há muitas, e "no meio de tanta gente, é difícil encontrar humanos". É, é assim é. Ser um ser humano é ser praticamente perfeito dentro de todo o paradoxo de imperfeição. E já que nem Deus é perfeito, porque todo o cristão sabe que até ele, superior ser imaterial, omnisciênte e omnipresente, precisou de 7 dias, ou seja 168 horas, 10080 minutos ou 604800 segundos, para poder criar algo do nada, como posso eu ser perfeito? Tento eu criar ideias do nada, do vazio, mas nenhum raciocínio lógico explica a origem do meu pensamento e do meu conhecimento. Nenhum conhecimento nasce do nada, então como posso eu ser superior ao Deus natural? Não, eu sou uma pessoa que procura deixar de ser gente para poder encontrar-me como ser humano, porque embora procure ser perfeito, sei que nunca hei-de ser vivo para me auto-confrontar e atingir esse meu objectivo. Ninguém é, ninguém consegue. Embora o meu pensamento seja emparelhado, desorganizado e pouco metódico, as dúvidas não me deixam de surgir e continua a não haver vivalma que mas exclareça.
Confesso que receio no meu maior intímo ter o destino traçado pelo poder do código genético, luto como um leão para todos os dias tirar tudo de bom do que todas as mais belas pessoas que me rodeiam têm. Mas quem me diz que o que eu acho que é bom e moral, não é na verdade pouco ético e errado? Vivo numa sociedade ocidental, e os ocidentais dizem-se dignos e corretos, mas só porque não matam e assassinam como os orientais e os islâmicos, quer dizer que são melhores? Qual é a sociedade suprema em termos éticos? A minha? Não, não é com certeza. Enquanto puserem pessoas a governar e deixarem os humanos sem poder de decisão, vai sempre reinar o capitalismo, a corrupção, a injustiça social; e todos os nobres, justos e verdadeiros defensores socialistas nunca irão ter uma voz. O povo dá a voz ao povo, e se todos somos povos (diferentes a nível cultural ou não, na minha perspéctiva não interessa para o caso), tá na hora da minoria parte do povo que governa os Estados ceder o seu lugar e oferecer uma voz ao povo que nunca lá esteve, e que decerto terá mais perícia. Já vimos liberais lutar por causas, e a seu tempo foram bem sucedidos. Esta é a hora daqueles que lutam por um lugar como humanos neste universo do Terrestre - do Ser Humano - de fazerem algo genuínamente humano e lutarem pela vida das outras pessoas, que igualmente lutam por sobreviver. A sobrevivência é algo muito animal, mas não será humano também?
Vamos todos ser boas pessoas e procurar a humanidade dentro de nós, porque ela está escondida à espera de salvação. A salvação somos nós mesmos. A nossa salvação é a salvação das pessoas que desesperam à procura de serem humanos, temos de as ajudar. E como? Vamos praticar ações morais, boas ações de acordo com a nossa própria lei moral, o nosso próprio imperativo categórico. Vamos realizar uma ação tão boa, tão pura, tão humana e tão honesta que queiramos que toda a gente adopte o mesmo tipo de ação. Desse ligeiro modo, todas as pessoas que nos rodeiam vão procurar ser humanas, agindo de acordo connosco, procurando reproduzir-nos. E nós faremos o mesmo. E toda a gente fará o mesmo, será todo um planeta a lutar pela mesma causa. Assim, todos seremos melhores pessoas, as nossas qualidades racionais e humanas vão fazer-se sobressair e já ninguém passará os dias com questões sobre o poder do ADN ou a legitimidade do poder do Estado; já que o meio, que sempre teve boas ou más influências sobre nós, hoje terá motivos para ser aplaudido, porque é límpido, transparente e bem feito. E ao tornarmo-nos humanos e vivendo nesse bom meio de se viver, também os nossos filhos nasceram humanos e serão humanos feitos e a fazer-se aos poucos, quer por vontade dos pais, quer por exigência do meio/sociedade, quer essencialmente por vontade própria e por amor ao dever. Depende de nós mudar, porque pedir esperança e ter fé nunca mudou nada na velha e usada condição humana, e o futuro necessita de mudanças na articulação de novas ideias e novas mentalidades.
Isto não é poesia, isto é o abandono temporário do pseudo-poeta e a encarnação do pseudo-pensador contemporâneo. Não passa de um comprido desabafo pessoal, podem entender ser uma doce perspética da evolução impossível da humanidade, mas é o pensamento de um jovem adolescente que insiste em querer ser revolucionário e que, dentro do seu próprio modo de ser, consegue.
Nem que seja só para si.

«jd»

sábado, 16 de junho de 2012

Brotar

Se é a paixão que nos faz mover,
se é o fogo que faz tanto molhar
é portanto a água que a faz secar.
Porque amar alguém superior a nós
é bem muito, muito mais que entreter,
é mais que deter, é mais que iludir, é manter.
A frangilidade com que nos temos na intensidade de alguém,
é sempre a que nos estorva e não nos liberta de ficar sempre aquém.
Aquém de meio mundo cheio de esquinas mal viradas,
e de esferas de nove lados, paralelas e desventuradas.
É o vinho picante que nos deleita pelas entranhas,
alimenta egos e ódios sólidos por ferir tais impressões.
As armas desligadas estão, o povo está às aranhas,
e os capitães já não sabem quais as faltas de sensações.
É tarde demais para virar o relógio do avesso,
as aventuras remetem para o regresso ao progresso.
O piano toca acelerado e o meu coração por ti foi amarrado.
Talvez a sua batida também forte esteja, e o futuro assim o preveja.
Acontece a reviravolta.
Surge o bicho que ladra, o vento que assobia, a intriga que desmente.
Brota toda a flor que sem se plantar, faz-se primeiro sob forma de semente.
Saudade passou de moda e já não se sente.
Já que saudade é tudo quanto nos magoa,
pretendo ter isso flutuamente e bem patente.

«jd»

terça-feira, 12 de junho de 2012

Atrito

Ainda bem.
As pessoas continuam a ser límpidas como a natureza,
a confrontar erros com elevada transparência e beleza.
Nem tudo mau é nas gentes que nos acolhem,
nem a forma nem no cuidado com que irrompem.
A incoerência e o arquétipo do modo como surgem na nossa vida,
só preenche mais vagas e vagões na falta de velocidade desta nossa corrida.
O seu iman só atrai mais o nosso vetusto metal,
a sua saudade mata-nos esta indizível fome animal.
A sua esperança faz arder em delícia a nossa retina,
fazendo bombear engenhos explosivos à porta da mina.
Esse engenho é a arte que não nos bate, mata,
não nos acalma, só nos extansia a nossa lagoa, castata
de revoluções emocionantes que só inflacionam o paupérrimo coração
de um jovem incendiário que no amor já só se revê em morta fricção.
Coitado, coitadinho deste miserável sortudo em busca de terreno prazer,
há espera de uma gigante pessoa que lhe faça o seu oscilante chão tremer.
O piano continua a ter as mesmas batidas e cordas de sopro trivial
que a doce e anã flor ruiva adora ouvir como no seu primeiro dia digital.
E a minha pateta e translucida paixão por esse rebento vegetal é em tal grau,
que não há prescrito céu cinzento que aguente minha fortuna durante o sarau.

«jd»

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Alucinado Pentágono

Cá estamos com novo espetro,
nova luz; raio que bate longe ao perto.
Respiro com palidez pela falta de rapidez
encontrando rigidez na alma vendida ao nudez.
Abano e faço tremer prédios sob a mercê do amor,
provoco inundações nos sóis onde te miro sem fulgor.
Eu já soube e saberei que toda a gente tem e terá projetos,
pois até um bom ferreiro sabe boatos mais insensatos e secretos.
E eu idealizei um duo de estrelas com as minhas carnívoras retinas,
planeei pentágonos desformatizados bem acima das muitas outras colinas.
Mas sou mau patrão, e não vejo nisto tudo senão um milhão simples senão:
o de incessantemente vir a cair onde já outrora insistentemente me vi fazer puir.
O medo não paga o que deve, nada se resolve por se fugir e por tanto se exigir greve.
Crença não larga o hábito, e o hábito não larga o padre que desfalece por ter enfermo hálito!
Vida farrista e boémia, toda a gente a tem; mas os grandes amores só aparecem a quem respira a cem.

«jd»

terça-feira, 5 de junho de 2012

Fuzilamento

A próxima vez que chorares, agradece.
A proxima vez que mentires, perece.
A outra próxima vez que atraires, retrai.
Porque a falta de sobriedade é tudo o que contrai.
Nos sonhos voam inumeros passageiros,
os assexuados anjos são maus mensageiros.
A memória nunca me faz ou fez falta
a noite foi criança mas já vai bem alta.
O sol agiganta-se do outro lado,
o céu é cinzento e empastado.
Rir do despacho mergulhando no riacho,
triste condição do etiquetado macho.
O circulo carece de juízo, critério ou harmonia,
a razão e discernimento ganham nova maldita mania.
Os amigos dão a mão, ouvem piano com a sensação
com que Deus ofereceu a terra e o mar a Eva e Adão.
Sentem o chão a ruir, as flutuações a descer e subir.
As bisnagas de luzes fogem e somem,
a carência de brilho e fulgor permite
que a preta droga que eles consomem,
tome o desastre e trate como urânio a dinamite.
Todas as cantigas fazem lembrar a repúdiante noite,
só espero que o fugaz satanás por aqui não pernoite.
Da próxima vez que puxares pelo cérebro, desliga.
Da próxima vez que bodega fizeres, suplica.
É mau demais para repetir,
e mau até para se fazer ouvir.
Mas a verdade acabará por vir à tona
deixando o rei falir da sua poltrona.
E a perfumada e vistosa rainha de toque solene vai atrás,
libertando um rasgado rasto de caminho que demos deixou aos demais.
Doce e rara elequêcia têm aqueles que nada refletem,
deixando outros dois na omissão por quem competem.
Esta é a história de vultos pseudo-aventureiros,
ou a saga do fuzilamento de dois legítimos herdeiros.

«jd»

sábado, 2 de junho de 2012

Báratro Enredo

Os escravos da vida são e da vida fogem.
Esvaiem-se da opressão.
Ou tentam. Cancelam ou pintam:
quadros desertos numa areia.
Intriga de gelo, ardor na teia.
Um gladiador faz por não transpôr.
Não pisa a linha, é um salteador.
Aceita a vida como um crédulo vegetal,
impugnando a morte como um animal.
Joga a mortalidade num xadrez incolor.
Cortina de varanda, ácido Ph de paixão sem amor.
É ator onde reinam os filhos dum colecionador.
Mas nada sabe de nada que não sabe.
Indaga pouco e pouco ou nada questiona,
porque sabe que da experiência da vida
tudo o que é duro trinca, morde e entorna.
Do alimento não abdica, nem sequer interroga.
E os escravos da vida são, da vida fogem.
Esvaem-se da opressão.
Ou tentam, ou disso se contentam.
Porque mais nada têm, nem dedicação alguma.
Saudação já quase pouca ou nenhuma.
São teus escravos e alimentam vicíos terrenos e amenos.
Mas também tombam e por isso te lançam viscosos venenos.
Oculta-se a fraqueza e coragem de um homem
quando todos os seus primários valores
como por um suspiro se somem.
Todavia a porta batida é sinal de irreverência
e a janela desabotoada é um visto de pouca inteligência.
O rapaz instiga-se por vastíssimos conflitos antigos,
discernindo unicamente quando o conflito futuro se aproxima.
Joga-se então uma faca de dois lumes sobre pratos partidos,
e o horror só patrociona quem ainda tendo derrota sai por cima.
Passo a ponte sem avisar ninguém.
Olha toda a gente, com notável desdém.
E todos os agrupados olhares,
mesmo sem de mim saberem,
castigam-me até não mais não.
A culpa, o delito, a desculpa, o grito.
Eu no centro do báratro enredo,
perdido por cem, perdido por bêbado.

«jd»