segunda-feira, 28 de maio de 2012

Não é um Regime de Tropa

Sou humano de betão e desumano por dizer não.
Farejo entrigas como o vento nortenho,
viajo com o chão possuído, com o que não tenho.
Indago incontáveis vezes como o pobre animal,
procuro gasta vida numa terra além mágico portal.
Sou perfeito por estar em presente todo o lado,
sou suspeito por insistir em ser sempre delicado.
Humana condição que imanam os céus triunfais,
aguardando com desejo o ruir dos jovens mortais.
E eles que até nem me querem senão com pudor,
entre Júpiter e Saturno há imensas luas de autêntico valor.
Nem no espaço encontro senão um simples senão:
o de apenas te ver além do olho duma águia ou de um falcão.
Olho esse que nunca possuirei, e que por tarde tanto te pecarei,
por ser teu sem ser teu, por te ter valor sendo considerado teu judeu.
Reparo o irreparável sem a força da natureza,
julgando sem nunca julgar a disparidade da realeza.
Porque raínhas diferentes são a que comandam a vida de um súbdito
e entre a paixão e a razão há apenas lugar p'ra um coração restrito.
Sente-me na fuga, abraça-me no adeus.
Vou exilar-me aleatóriamente pela tua Europa
e, sem conflito de culpa, doar-me aos teus europeus.
Porque o amor não é um regime de tropa.

«jd»

sábado, 26 de maio de 2012

Dialetos da Ternura

Ela diz que me adora quando a noite vai a meio,
eu sinto-me melhor pessoa, menos fraco, feio.
Passa o dedo na rasta, com a mão bem suave,
encosta o lábio no ouvido e diz-me "Queres que a lave?".
Vamos para o chuveiro, ela flui e com a água,
lava-me a cabeça, a alma e qualquer resto de mágoa.
Diz como é o amor e dá um certo calor na barriga.
E consegue. Quero sempre, sempre ser
aquele nigga que lhe mete a rir.
quando eu lhe faço vir da terra
até à lua mano, é sempre a subir.
Somos grandes, gigantes, com dez metros de altura,
falamos vinte línguas, dialectos da ternura.
Água morna em pele quente, poro aberto não perfura.
Minha alma já está nua, faço-lhe uma jura.
Para sempre teu depois da noite volvida,
um segundo ao teu lado já preenche uma vida.
O conceito de tempo não entra na sensação,
aquilo que vivemos esta gravado no coração.
Segura na minha mão e continua a canção,
é a melhor que já ouvi, reinventas-te a paixão.
Ela diz que me adora quando o dia vai a meio,
o copo passa de meio vazio para meio cheio.
A palavra ganha vida e fala à minha frente,
sigo calmo atrás dela, deixo crescer a semente.


«Da Weasel»,
num ritual e tributo de saudade,
pela melhor amiga que me fez renascer sem idade.
Um grande abraço para a mulher que me ensinou
que a grande poesia é a que se respira sem se escrever,
e que a saga paradoxal que a vida se torna e é,
nos obriga a chutar as preocupações
com a força e estofo de um pontapé.
Para a Cátia, a Timon, a cupincha da bebedeira;
A cómica e crónica criança da asneira.
A amiga da minha vida.

domingo, 20 de maio de 2012

Intransigente Seleção

A imperfeição num ser humano
pode ser o mais cativante e sedutor
pode ser tudo o de mais formoso e encantador.

Não nos agrada a perfeição, a balada, o ritmo e o som.
Não gosto de mamíferos, não gosto de mulheres
enquanto o sol recolhe, por favor lua, não desesperes.

Pessoas tão perfeitas, deuses do Olimpo!
Nem num futuro, nem no já passado,
jamais irrefutáveis citações serão oradas
por debaixo da ponte, sob a vista dum eirado.

Não querem o meu cunho, a minha marca?
Continuem achando-se autênticos bestiais,
mas desacreditem em vós e só vós mesmos,
pois não passam de bestas encabeçadas numa arca.

Oh, nunca vão aprender nada comigo...
Nunca irão levar nada de mim? Oh!
Estou tão subcarregado por lastimados protões,
deformado em positividade de benignas ações.

Ouve lá, acorda e dorme de volta.
Chama para ti a chama que te deixa à solta.
Queima papeis, tortura e come esses tantos reis.
Vamos apostar; jogar numa purificação.
Vamos todos completar outra pessoa.
É pois, a vida come-nos, selecciona-nos.

«jd»

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Guerrilha Lusitana

No amor e na guerra,
inevitávelmente há sempre algo que se perde,
contrapondo com outra coisa que se vence.

No amor e na guerra,
há sempre histórias e memórias de sonos restaurados,
de fotografias bem queimadas e e rastilhos mal tirados.

No amor e na guerra,
eu falo com o homem do tempo e pergunto-lhe as horas.
Ainda tão tarde? Porque tão pouco te fazes e tanto te demoras?

Bom, o amor e a guerra
são palcos das maiores e avultadas ameaças terroristas.
É o lugar, a cena onde o blindado herói sempre nos acena.

É pois no amor e na guerra
que descobrimos a força dos pulmões, a eloquência para revitalizar as nossas emoções.
Onde empenhamos a espingarda descravada, desferindo profundas e loucas feições.

Então confesso que no amor, ou na guerra,
descubro-te sempre um rasgado sorriso num idoso e desusado plátano,
broto da inibição, aproximo-me - nomeando-me teu lusitano apaixonado.

«jd»

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Há Dias Assim

Ter-te-ia de baixo do meu braço e ombro,
de cabeça pouco ou nada erguida
à margem dum velho escombro.

Olha pensa em tudo, mas se dúvidas amontoas
confessa os teus intelectuais crimes
mas depreende que muito me magoas
com esses teus falsos estados sublimes.

Nédia e solta, de cabelos largos e largados
num regime insustentável de simples beleza,
heis que surges tu efeitiçando oxigénios usados
no fundo da furtada avenida portuguesa.

Oxidas ferros, ferrando homens pela tua travada travessia
e emanas magnésios com uma elegante monotomia.
Mas olha que eu atormento-me de agonia
pela capacidade que me tens de pontaria.

Um dia sim, direi a todos que te amo.
Falarei das noites em que sem parar te sonho,
e que minha deusa te reclamo e proclamo.

Vivemos vidas em universos paralelos,
eu sobrevivo humildemente com meu pão de trigo
e tu com riqueza de teus romanescos castelos.

A impossibilidade que nos fixa um ao outro,
nada mais é que um renascimento de um mutante poldro,
que regressa a um mundo onde a submissão à demais escuridão,
nada animam um desanimado homem fraco de paixão e emoção.

«jd»

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Carta Patente

Sabes que faria tudo, quase tudo.
Faria tudo e teria tudo
para te ter um pouco de nada.
Resgarda-te-ia do vento,
num agarrar suave e lento.

Protegeria a tua pele de prata
com um qualquer
genuíno ouro de sol.

Limparia-te as olheiras matinais
enquanto te arrumaria as tuas tristes
memórias no barco estacionado no cais.

Comeria-te as remelas
caídas pelo chorar noturno.
Auscultaria-te as vísceras,
procurando sons de saturno.

Choraria do teu riso,
ombro junto ao ombro
e rir-me-ia do teu chorar.
Viveriamos fixados um no outro,
e unidos averiguariamos
a perfeita forma de amar.

É a carta que um dia te escreverei.
Quando fosses minha eu saberei?

«jd»

terça-feira, 8 de maio de 2012

Zarpando no Cristal

Tento zarpar e escapar-me no meu paquete,
bato bolas e quadrados com o auxilio de uma raquete,
vejo mergulhos profundos, fundos de mágoas esquecidas,
abandonadas à mercê do leito do rio onde vim dar.

Encravei numa molhada página descodificada.
Linha sobre linha é uma azul meta quadrículada,
Montes e montes de uma enorme maré de cristal,
miro ao longe o farol, o brilho e o cintilar do litoral.

Podia contar luas e luas,
planetas, estrelas e astros.
Podia tentar-me e partir-me em aventuras,
partir em barcos e viver sob quebrados mastros.

A vida é um remo cor de nada,
de nada tem o breve tudo,
e de tudo esvai-se num reto
mar de estrada.

Procuro o pedaço de terra onde te deixei,
descubro-te sob faíscas de água onde nunca te ousei.
E absorvo o salso ar para ti. Diz então, faz e sorri.
Que a vida não está para mim no que a vida para ti está.
Sou audaz capataz de uma embarcação sem destino,
percorrendo leitos e oceanos por ser teu peregrino.

Vida faz-se de palavras bonitas,
escritas e ditas na ponta da mão.
Por favor, se um dia um novo amor te aparecer,
espera por mim que perdido estou na banheira de deus
e não lhe digas que sim, mas não lhe digas que não.

«jd»,
uma solicitada encomenda
pode sempre precisar
de uma ou outra emenda.
Para a Rita, que se decidiu
e neste pseudo-autor lá investiu.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O Berço da Abóbada

"Se não sorrires para a vida, ela nunca sorrirá para ti"
Assim consenti um espírito novo para mim,
pois do velho eu mal ou bem me exprimi e fugi.

Como o arco não abraça a argola,
o passarinho não foge da gaiola.
É então numa gaiola que eu duplamente coexisto,
há medida que do outro lado o fiscal me solicita o visto.


Esse medo não me faz a coragem querer quebrar,
porque profundamente eu sei que a grande luta interior
é colidir e topar a forma mais eficiente de te poder amar.


Mas no fundo, no fundo
lágrima derramada sob cólera acesa
torna uma mútua descompatibilidade
sem qualquer regalo ou surpresa.


Nesse profundo fundo é onde me questiono,
interrogando-me sobre factos factuais,
deliberando-me sobre a minha vida
e quiçá inclusive a dos demais.


E demais não é de ganir e pedir,
que na simétrica e vertical espiral
onde te encontras neste momento,
talvez me possa eu fazer subir e medir.

Mas então o empolado amor fracassou
porque o cupido tanto e tanto se esforçou,
mas a água dos cerrados tetos sobre mim se precipitou
e assim o deus do amor apenas a um dos dois pássaros acertou.


Pois em cada "L" de esquina
onde que vejo um arremessado casal amigo,
extraordináriamente lembro-me sem memória
dos meus tantos luares vividos ao desabrigo.


Já não mais lá estou.


«jd»