domingo, 29 de abril de 2012

A Ternura Prescreveu

Tenho medo de envelhecer,
sentir a vivacidade a perecer,
rugir por ter os músculos a prender,
distinguir os olhos e ouvidos a gritar e a doer,
subitamente escorregar por ter os ossos a quebrar
ou ambiguamente já não saber por que rua andar.

Tenho medo de envelhecer,
de formular memórias para prontamente
e involuntariamente as fazer esquecer;
ou de sonhos ser forçado a desprender.
De me converter num hipocondríaco ou desacreditado,
invariavelmente maníaco ou despedaçadamente resignado.

Tenho medo de envelhecer,
e não ter sonhos já realizados
ou outros imediatamente idealizados.
"O que os novos podem
e nunca fazem, os velhos
querem e nunca podem".

Tenho então medo de envelhecer
e junto ao meu lado não te ter.
Porque ter-te ao pé de mim,
é como ter uma suave e metálica flor de jasmim,
que enquanto tiver perfume e odor,
valerá pelo seu interior e exterior.

«jd»

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Avenida

Na jornada que tão singelamente se estreia,
busco-te abaixo duma pedra minéria de carvão
que estrepitosamente se me excede,
fazendo triagem de tudo o que de
relevante e irrelevante nesta aldeia se perde.


Dois sorrisos negros numa única alma clara e mútua
gosto de ti como novo Sol precisa da penumbra da velha Lua.
Do trigo vem o pão;
donde a tua brava e flava coragem
revela um pequeno coração de leão.


Aurícula e ventrículo meu que por ti
bate a cem mil quilómetros por hora,
esperando ver-te na prisão
do prescrito diário da nossa paixão,
todavia do apetecido lado de fora.


O sol nasceu, já ganhei o dia;
poder mirar-te a cinco metros de mim,
tão delicada, verde e esguia.
És bela, tão bela vela acesa, bela de tão tu,
tão mais como de teu cheiroso corpo delgado e nu.


És mulher de tão airosa faculdade possante,
não vendes a minha íntegra alma a ninguém,
isso seria com desvirtude singular e quiçá até pouco elegante,
para alguém que ocupa o mais belo palacete
da principal avenida de Santarém.


«jd»

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fisiognomonia

São múltiplos jardins de silêncio ensurdecedor,
luto sobre esgrima malhada contra nobre meu interior.
Pois então colido frontalmente com a miúda do alfarrábio,
atrapalhado então, adivinhando o nome e investigando-lhe o lábio.

Todavia agora trocamos carícias e delícias até,
vemos passar as horas do senhor relógio
ao sabor de um poema, ou inclusive de um bom café,
horas infinitas porque o apimentado tempo
promete impremeditadamente por nós não passar.

Chocolate amargo sob a tua epiderme,
és adrenalina minha, és tudo o faz, tudo o que treme.
Estou nu de encantos pela apreçada rapariga
do cabelo cor de trigo e do vestido verde-jáde,
ausento-me dos meus vastos complexos de animalidade
e transformo este descortês ser num dócil humano de amor em cantiga.

Hoje empenho e trato da ferida
para amanhã voltar ao combate.
A rixa é torturante, fisiocrata e desmedida
o trocadilho de olhares dispõe-se num desempate.

Sei-te os laços e cansaços da vida
pela pétala de rosto que tão bem te topo.
Embarcaremos no aventureiro avião
do ardente e enchente Absinto no copo.

«jd»

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Fracionado

Ando rigorosamente andando.
Injustamente ando vagueando,
cobrindo as solenes estradas e largos
com uma lenta passada
desprovida de entanto.

Cinco dez minutos de raiva
introvertida, torta e paralela.
Uma vida em fração incomplexidada
há procura de um anjo criatura junto à janela.

Há pouco tempo aprendi que todo o certo,
é o lado errado da minha filosofia
e que o choque entre corações e paixões,
já não mais se faz sem uma pitada de magia.

Deprimo sobre a felicidade,
onde atos de deuses na terra
não decaem sobre qualquer
pasmo ou entusiasmo de bondade.

E vivo assim - prometedor e risonho.
Aguardando o provável fim do meu sonho.

«jd»
dedico à minha Patrícia,
a Mulher. A mulher que ofusca
e insiste em manter este sonho em delícia.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Separo-me do Outono

A Primavera e a frescura da tua rejuvenescência
ataca e estrangula o Outono do meu ensaio de imprudência.
Enches o cálice e repões o sangue que outrora me sequestraram,
preenches espaços vazios com vida, que os desleais sonhos tanto me adiaram.

O vento bate nas folhas à velocidade com que
o meu peito explode pelo teu coração,
e nem com todo este frio,
eu por ti perco a minha paixão.
És duro musgo na minha viscosa rocha.
Anexas-te a mim, aos outros permites o escorregar
e proteges-me da forte brisa do ar e do mar.
Fazes juras de amor em despedaçados horizontes.
Ligas os nossos interesses por longos túneis e pontes.
Milhares de pequenas cascatas perturbam tão lindo rosto,
onde a vacuidade se descompleta com lágrimas.
Respeitas-mee descarregas-me de qualquer imposto
que por ti estar encantado pendurei às minhas lástimas.
Entre simétricos cálculos sobre a atração humana,
resguardo-me de tudo o que a virtual tentação imana.
Os laços e correntes prendem-me agora furtivamente a ti,
já não mais me lembram as garras ferozes das quais eu fugi.
E tu aí - rica e ruiva; como deusa escapada de uma penúria.
«jd»

domingo, 15 de abril de 2012

Esfera Feérica

Suspiro sem vacilar sob universos enormes,
deparando-me com inumeros desamores uniformes.
Vou disparar e dar um tiro na mão ou no pé,
mas fazendo tudo de bom sem perder a minha falta de fé.
Num firmamento uniformemente nublado
revejo o teu rosto em todas as núvens desformes
sentindo em cada minúscula partícula do enevoado
as mais pequenas gotas de água em que possivelmente te tornes.
A interação entre o tempo e espaço é tudo o que nos liga,
conecta-nos como discos perdidos num mar á deriva.
A linha que separa o pecado do teu recado
é o amado ou fastigado doce luar.
Amor é onde me amaluco,
nas horas cinzentas e escuras
do tratado de poesia em lusco-fusco.
Perco-me em ti por 5 noites e 5 dias,
são beijos e carícias de um anjo
perdido num cosmo sem arranjo,
onde só habita o sentimento transacionário
de um homem que vacila por ser seu mercenário.
Mas em contratos bem ou mal assumidos,
delicadamente tropeço cada um dos olhos
por todas as quebras reminiscêntes
de minhas memórias de teus toques ardentes.
Quero tirar-te fotografias enquanto dormes e descansas os olhos
tornar-te ilimitadamente minha, tornar-te parda e delicada princesa,
rasgando com o meu imaginário todas as tuas interiores roupas e folhos
enchendo até o quarto de velas, preparando-te uma ópera à surpresa.
Sou eu, um veterano de guerra
encalhado numa tempestuosa terra
onde a imunidade da saudade saúda os amigos
e me deixa a mim à mercê do calor dos abrigos.
«jd»

terça-feira, 10 de abril de 2012

Histocompatibilidade

Tenho um incerto e um escasso, porém ritmado medo de que todo o teu sorriso em explendor anule toda a minha carga negativa que possuo por ser um jovem deliquente escritor. Em desventura contradição, tenho ainda um outro vulgar prepósito de te ver sorrir mais e mais infinitas vezes, para que isso alimente esta fera, que já não mais vive sem esboços de perfeição do que a felicidade assim te representa, ilustra. Por dentro de toda a descompatíbilidade que sei que qualquer amor e paixão representa entre nós, gostaria de rascunhar confidências contigo, enquanto as nossas mãos de unem ocasionalmente e os nossos olhos esquerdo e direito se unem quer pela esquerda quebrada, quer pela direita erguida. Da Lua já só quero o eixo que nos liga pela noite fora, enquanto conversas aparentemente intermináveis terminam onde o meu novo sonho começa. Desligado por breves e vencidos restos de tempos desanimados, volto a entregar-me novamente em sonhos à pessoa que me viu adormecer. E nesse permaturo momento garantidamente tens-me para ti em absoluto. De mãos presas, uma há outra, somos capazes de provar a todos o valor do nosso ardente e irrefutável amor fundo e domar um mundo, que insiste em não nos ter como par sensação e tão imortalmente luta contra nós até ao nosso pecado e redenção.
Toda a ambiguidade do desamor que nos une em cordas soltas na traição e que assiste ao nosso escalar, em profundidade, de uma montanha que não tem fim e que rasga o céu; rasga e magoa de tão elevada que é; porque quero-te conduzir a um anexo pequeno no desmedido céu onde só as mais brilhantes estrelas têm acesso.
Na medicina o conflito sempre haverá. A rejeição de um órgão que não pertence ao corpo estranho no qual os médicos pretendem administrar. E no amor? Haverá guerra entre o teu corpo e a minha estranha alma? Acredito piamente na histocompatíbilidade entre as nossas perspectivas e virtudes. Decerto não vivo eu em total desacordo comigo ao ponto de formular ilusões segundas e terceiras vezes sobre tão desiguais segundas e terceiras pessoas.
Por isso garanto: um dia destes a ti aventuro-me. «jd»

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Deserto Salgado

Num deserto salgado e frio onde a noite cerra,
o férvido sol amena, cai no horizonte e cai na terra.
Fico eu então ao descoberto, com bandeira mal aparada,
há espera que algo triste e diabólico termine a minha jornada.
Não acredito no que não entendo,
finjo no que creio e apenas no que pretendo.
Amor acento em verdade é coisa doutro mundo,
existe bem e puro, mas só lá bem no fundo
do céu estrelado, onde olhares
conectam-se e alargam-se,
prenchendo alguma inteira saudade,
além de toda a vaidade e uniformidade.
Atesto a minha vida com outra dócil vida por cima,
mas ela não me completa e já pouco me anima.
A essencial pantomima numa melancólica relação faz falta,
no crepúsculo do fim de tarde, onde a adrenalina já só se arrasta.
Chegou o cúpido pouco ortodoxo,
diz trazer soluções a curto prazo,
faz-me sonhar com ilusões aos quais dá azo,
mas apenas alimenta um portentoso paradoxo.

jd

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Alçapão Teatral

Senti um tênue e ligeiro desprender,
uma súbita leveza gramou uma pena.
Vi minha traumática vivalma renascer,
o diabo despede-se e de longe acena.

Estava detido em quarto fechado,
inconsciente e apáticamente curvado.
Abriste a porta e sem permissão um feixe de luz entrou.
Levantei-me e procurei-o com a palma da mão,
mal houve contacto, uma angústia sobre maldição cerrou.

Um qualquer feitiço fraturado rugiu
para longe do meu requebrado alcatrão.
A perdição evaporou e pausadamente subiu,
enquanto o ponteiro das horas se inclinou e caiu num alçapão.

Meses e meses. Longos meses de alucinações.
resolvidos com simples minutos de conversações.

O tempo parou. A atmosfera suspendeu.
Todo o sigilo encanto queimou um quarto de pneu,
toda a minha inteira aura se descomprometeu,
como qualquer jovem que abandona o liceu.

Ensaiando um fim já de si tão perto e próximo,
revejo a preto e branco todas as singulares cenas memoráveis,
em cada um dos atos indevidamente organizados.
Num ensaio sobre a compaixão no seu máximo,
por toda a penúmbra da noite dou-me em guiões inolvidáveis,
de peles e escamas de agoiros mal consagrados.

JD

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma Aclamação

Não importa
eu voltar a ser eu,
ou eu voltar a ser teu.
Não importa
dar sem receber,
apreciar uma música
sem saber ler ou ver.
Não importa
o amor condicionado pela distância,
importa como cada um a encurta com elegância.
A vida é simples, mas custa.
Não importa
quantas lágrimas nos tombam e entram em coma,
somos feitos de um grande e estonteante sintoma.
A vida, que vida!
Não importa
quantas vidas são as que amamos,
Porque qualquer dia a vida será a tal,
entendo que todos amamos uma última vez
e uma última vida e pessoa antes de morrer.
Não importa nada.
Cada um terá a sua função na vida,
um papel no drama.
Representar é saber ludribiar,
é chegar ao sentir, ao concertar.
Não há Julieta sem Romeu;
não há duro futuro sem olhar
a um espesso passado dourado.
Não há porta sem maçaneta, janela sem vidro.
Não há fumo sem brasa, água sem sol.
Não importa.
Tudo tem um plano,
tudo tem um berço,
um sepulcro.
Não importa
quantos amigos coleccionamos.
Cada cromo, cada amigo
é especial e nenhum será repetido.
A Caderneta é de dimensões
desconhecidas, ilimitadas.
Não importa
a resposta da mulher que amamos.
Importa
se quem amamos
nos responde como mulher.
Não importa
morrermos todos amanhã.
Importa gozar vida.
Gozar o máximo de prazer.
A excitação de cada terno momento de extâse.
Sentir o coração aos pulinhos sem nunca parar.
Importa bater recordes atrás de recordes,
importa atingir sucessos sobre sucessos,
chegar a vitórias e chegar a mais vitórias ainda.
Os triunfos são o nosso plano de vida e todos os temos.

João Dias