sábado, 31 de março de 2012

Banho de Quartzo

No meu solo estridente e trilho de sangrenta guerra,
haverá sempre uma indefinida mulher que me ata, que me berra.
A tua esperança ainda procura o meu sorriso.
A tua mão estragada ainda procura uma palma compatível
de um ingénuo futuro programado ao improviso.
Os teus lábios aconchegavam-se nos meus,
mas o remédio já passou por dizer apenas um adeus.
Em tempo em que a magia de tão singular que era,
mentia com cada carta que jogavas na espera.
E eu joguei uma copa de boa fatalidade,
empenhei um jogo de fraca habilidade.
Falhei no trunfo e hesitei no caminho para o triunfo.
E quando a vontade é bater no que batido já fora,
a expectativa é dócil, onde a sede de aventura já mora.
Entre paredes e muros partidos,
pilares e azulejos descoloridos,
uma fortaleza em quartzo ergue-se
ergue-se no meio das cordilheiras
onde paixões falecem de mil maneiras.
No nosso primeiro encontro ao acaso,
pássaros cantavam, flores desertavam do vaso.
A memória infundada não mais escorre pelo quente olhar,

os sentidos entrelaçados são beatas queimadas ao denso ar.
Cinco segundos de jus etiqueta,
outros dez de cor rebelde-violeta.

Minha musa, eu amo-te, eu deserdo-te.

João Dias

quinta-feira, 29 de março de 2012

Paraquedas do Titã

Porquê fingir um remédio irreperável?
Porquê respirar o respirado já de si irrefufável?
A tétrica solução já nunca, jamais resentido,
o hino da traiçoeira rasteira locomoção fica partido.
Mil peças montam este titã em forma de corpo,
este titã porco e corpo, que tanto visa ser proco.
Sabem o truque da conveniente detonação,
bem fazem arte ao partir meu coração.
Sabem como me destruir.
Sabem as tramóias todas.
Poem-me a duvidar de mim próprio,
desde o meu brio ao meu precipício.
Colocam uma questão impertinente:
se a força do rio do meu caráter
corre para foz, ou para a nascente?
Se sou eu quem me governo,
ou se é algum estado riscado
para lá do meu subconsciente
claro escuro, vivo e interno.
Larga-me a intelectualidade da mão,
eu publico tudo o que me vem do coração.
Já desconfio de mim.
Será que a queda em que me vou
irá ser aparada pelo paraquedas
que aciono vezes sem conta,
mas que nunca me funcionou?
Encontro-me a 1 metro do defunto soalho,
faço cratera com o desuso do meu cadáver.
Morri de mim, sucumbi ontem.
Sou animal à espera que o montem.

João Dias

Sublime Ruga Enrugada

Acumulo exaustidão.
As linhas unem-se,
os traços conectam-se.
O caminho mau depressa encurta bem.
Boa ação depressa torna má reação.
A rédea penumbra do sol,
acende a vela do meu farol.
Atado sem atuar.
Grato sem admirar.
Fuga sem escapar.
Ruga sem devotar.
O nobre destino na mão,
sangue seco não mais corre
pelo nosso plastificado coração.
Nova esperança no cúbiculo,
dá modernas asas à ave que não voa.
Alterna, decompõe e resume.
Põe de novo o sangue molhado

a correr pela cela do ventrículo.
O sentido em tudo desentupido,
vestido e mal nascido: partido,
abre a alma do negócio,
promove o mártir a sócio.

João Dias

quarta-feira, 28 de março de 2012

Bom Proditório

Ai eu de volta à crónica.
E que dor crónica é voltar a isto!
A bom ou a mau,
é tão mais comum ver compromissos,
como aguçar descompromissos.
As pessoas têm pavor de serem felizes,
do risco que a felicidade
acarreta nas suas matrizes.
A felicidade trabalha-se, molda-se.
Homens desfragmentadamente rendidos
vivem de ilusões toda uma extensa vida
e toda uma vida desperdiçam
com pseudo-projetos partidos.
Pisa a linha, sai de ti, distrai o mundo
explora o amor em todo o seu fundo.
A vida são muitos dias,
o dia apenas são muitas horas.
E a hora tem só 60 minutos,
preenchidos com o mover dos brutos;
duas vidas de dois enamorados,
um par de patetas apaixonados.
Não te sujeites ao passado,
são pérfidos rasgos de felicidade
imersos num oceano nada dourado.
Transfigura o futuro.

João Dias

segunda-feira, 26 de março de 2012

Clarão Velho

Na tua ausência a promiscuidade é patente.
Brinda-se a convivência com agentes sensuais.
Nada que transforme um cobarde num valente.
Gineceu de flor; era verde e barco de cais.
A pergunta de qual é o genuíno paraíso que se atinge?
A resposta de todo além do estático olhar de uma esfinge.
A lua, de lua que é, já foi Lua Nova e tornou velha.

O mar já foi mal salgado, virando mar doce molhado.
Dá-me a mestra chave que abre a orfã porta.
Vira, muda. Roda roda, faz e corta.
Escuridão é palavra forte.
Anúncia dor, prevê morte.
Mas.
Mas a paixão enquanto arte de beijar,
faz qualquer um petríficar, ganhar sede.
Ganhar sede de ter e arcar,
outra mulher que olhe além da rede.
E a luz, mas e a luz?
Não mais ver e voltar,
dar mil voltas até fartar.
Crescer. Melhorar.
Saber o que saber saber desejar.
Cheirar a música e os acórdes harmoniosos.
Ouvir a tulipa e os seus fragmentos cheirosos.
Viver ao descoberto, pressentir o incerto.
Ser eu, ser tu. Ser outro qualquer.
Na rua tropeçamos paralelo a paralelo.
Pessoa a pessoa, cambalhota, fino cabelo.
De braço dado, a desonra leva a honra até ao altar,
fá-la sentir miserávelmente o egoísmo do mal se entregar.

João Dias,
dedico à Pipa, felizes 17.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Incessante Gravidade

Vivo com uma hemorragia interna
facultada pela solidão da minha caverna.
Mas a tórrida expressão no olhar vai decerto mudar;
vai ficar fria, vai tomar outro qualquer nenhum lugar.
Permaneço clinicamente instável,
abalando como um prédio
num terramoto nada saudável.
A vida é uma pedra difícil de comer.
Já ninguém prevê onde será
o melhor local para viver e jazer.
E o amor? Insisto nesse bicho.
O amor vive pouco do
que o pouco o amor vive.
Tive-o, pouco tive-o.
Momentos trespassados
de loucura a par cruzado.
Sou bom suspeito e bom
amante sou também.
Apenas procuro doce peito,
um ser provocante, muito bem.
De tanta e imensa ternura
que tenho para tanto dar,
alguma pobre mendiga alma
haveria de me querer pegar.
Mas ali e aqui, aqui e ali
está o espírito de um homem
que plenamente se condena
ao movimento cortante do bisturi.
Desofegado de problemas sociais
e egoísta desde pequeno.
Vivo com a minha própria coragem,
vivo com o meu pequeno terreno.
Valho o esforço, valeria o aceno.
Pisco o olho, outro não recolho.
Tenho sucesso?
Não, maldito insucesso tenho.
Mulheres mulheres.
Homens homens.
A incompatibilidade dentro
da compatibilidade que tanto
o ser humano insiste em criar.
Viver e não viver.
Enamorar, feitiço do saber?

João Dias

quarta-feira, 21 de março de 2012

Losanga Rueza

Em detalhe, há revolução após cada emoção
reside tempestade além imunidade.
O meu peito por ti bate e arde
não há carinho teu que me desate.
Enfeitiças com o teu doce pescoço odorado,
ele que me mendiga por um só beijo beijado.
Os quatro elementos naturais em ti estão ligados,
momentaneamente, extremamente pesados.
Passeias-te por cada rua e cruzamento,
teu harmonioso perfume traz-mo vento.
O teu fogo mal respirado queima-mo pé,
conduzo um barco sem remo nem fé.
Já em terra, todas as perversidades são amenas,
até as flores param para lerem os meus poemas.
Os teus olhos em fúria libertam água sob lágrima embriagada.
E tu atarantada, inconcertada, usualmente preocupada.

João Dias

domingo, 18 de março de 2012

Aviltação Moral?

Tanto, tanto não fiz.
Desisti. Peguei. Pintei a giz.
Fiz bocados de nada para nada fazer.
Lucrei com o que perdi e não assenti.
Vi-me em mim, vi-me dentro de ti.
Reflexos sobrepostos na gota
que cai, e que no rosto se esgota.
Migalhas na estrada.
Paus montados em jangada.
As pessoas deploram-se com as más opções,
sem parárem e prognosticarem primeiro
a viabilidade das futuras ações.
Lamento a pena que todavia te tenho,
mas foi tudo bem além
do meu maior empenho.
Vou a descer rolando para ti,
tentando ver o que ainda não vi.
Choco com paredes e pedras,
contando entre ganhos e perdas.
Mas entre tudo me sobrou a ruína.
Fiquei mal visto por culpa da menina.

João Dias

sábado, 17 de março de 2012

A Inegabilidade em Suspiro

Descobres a frangilidade de uma ilustre pessoa
na força que ela fez para tratar uma vida de nódoa.
A mim escasseia-me sentido e motivo,
para despertar de manhã cedo
e bem saber que tenho algo em alguém
para quem reciprocamente vivo.
Na carência de paladar e sabor;
bem como na privação de adrenalina,
qualquer calçada é colina
e sei que todo líquido deixa licor.
Mas a minha infelicidade
nada deve condicionar
a felicidade de outrém.
O ar em toda a sua elasticidade,
suntuosamente em individar.
A saudade é um desvalor em desdém.

João Dias,
dedico à minha Nara,
toda pachorra e animação
que despende com este homem,
luta por ele todos os feros dias,
aguardando ver quando
os seus inigmas se somem.

sexta-feira, 16 de março de 2012

A Mecânica da Opção

Os nossos lábios magnetizam.
Um choque elétrico liga-nos olhares.
Perco os meus 25 sentidos a pares,
espreito-os enquanto me hipnotizam.
Já só me quero embrulhar no rock
em que a minha vida se tornou.
Permitir-me a vulgares asneiras
que já todo comum humano tomou.
Desconecto tudo o que não interessa.
Para o nosso mundo ser capaz
de colidir com o inimaginável.
Olho tempo a propalar-se,
apesar de por vontade não sair
de uma caixa impenetrável.
Mas hoje não deixei indícios
de que passas-te pela minha vida.
Escondi-te em segredo do mundo,
dissimulei quaisqueres teus vestígios.
É tão irrelevante lembrar-me de ti,
como sonhar em ter-te de volta.
Sinto o diabo ofegantemente
a respirar-me ao ouvido
enquanto me mente.
E nem assim fico retido?
Ilusão, alusão, perfusão,
idealização de um desvio padrão.

João Dias

quinta-feira, 15 de março de 2012

Enamorado

O teu fácil sorriso, a tua armadura,
numa conservadora pessoa de improviso,
lá que interminavelmente perdura.
Vives em lama e nela mesmo cais.
Mergulhas em lodo e dele não sais.

Passeias o teu corpo fragmentado
pelos atalhos e esquinas da cidade.
Faz-me preso, torna-me encarcerado.
Brinca comigo, dócil serva da temeridade.

Ás vezes rasgo-me deitar e tombar
no gélido chão da minha cozinha,
abandonado e de pernas ao ar.

Já com o coração perto da laringe,
ouço-o em desmedido percutir,
em tudo o prateado músculo finge.

Fixo-te numa gravura intrapessoal,
guardando no olhar e na saudade
todos os sóis que vimos esconder no horizonte do mar,
revendo temporalmente o nosso apaixonar e desapaixonar.

As ostensivas imagens,
secretamente guardadas,
reminiscentemente em delícia;
a saudade do angelical beijo matinal
hoje dispenso com perícia:

São tudo demónios desventurados
com gestos e hilaridade de qualquer anjo.
As ações são instáveis e sem sentido.
O sentido dado pelo meu Deus
já não é o sentido dado pelo meu Deus.
Deus não me queria nisto. Amar não é isto.

As memórias perfuram essas irrecuperáveis ações
e cada metro longe de ti é um conjunto de privações.
O sentido desmentido rendido e vencido habita sob o luar.
Onde estás meu amor? Onde estás?
Preenche o imenso oco, abraça-me e abrasa-me.

Sente o ar que não evapora, sente a água ir-se embora.
Volta comigo, cede-me abrigo.
Sê o meu par para o baile de amanhã,
põe o teu melhor perfume, de odor a romã.
Fica comigo desde a noite até de manhã.
Este rapaz tem demais e de menos para te dar.

João Dias

terça-feira, 13 de março de 2012

Irremediável Sonho Matinal

E se o sonho que me acompanha
se transfigura, se transforma,
ganha altura, fuzila aranha,
ganha verdura, uniforme forma?
Já não serei eu o mesmo reflexo em que me vejo?
Onde está o olhar, a corrida, o sublime beijo?
No meu mundo em escala de cinzento,
ainda tudo é apaticamente violento.
Onde ficou o compromisso de olhar, ver,
ver além mar, ver além do feitiço de amar?
Viver iludido, dormir iludido,
para não mais acordar.
E acordar, e não acordar.
Descançar para sempre.
Adormecer para viver.
Para sempre, até sempre.
Viver.

João Dias

sábado, 10 de março de 2012

Harmoniosa Destreza

É fácil conhecer-te.
É fácil falar-te.

Ter conversas multiplicadas,
sem grandes questões aplicadas.
É fácil sentir-te em pulso.
É fácil deslumbrar-te sem uso.

Aprecio-te à meia distância,
comparo-te a qualquer susbtância.
É tão fácil dizer.
É tão fácil dizer-te códigos.
Palavras em códigos,

geralmente provêm de anónimos.
É fácil roubar-te pensamentos.
É fácil raptares-me elogios.
Tu és a minha musa,

eu sou a tua recusa.
É fácil polir a ilusão.
É fácil gerir a paixão.

Lidar com as suas adversidades,
com as suas falsas flexibilidades.
É muito fácil amar a cem,
difícil é perdurá-lo bem.

João Dias

sexta-feira, 9 de março de 2012

A Indireção Iluminada

A amizade morre no dia em que
apenas um dos dois amigos se enterre,
até que a porta de uma janela,
ou de uma casota qualquer encerre.
A amizade é o único amor

que corresponde ás expectativas criadas:
não pede reanimações ou operações,
ou algum tipo de piadas.
Mas. Mas tudo o resto é molécula de ilusão,
um pudor sem respiração.
Um abraçar de cortina suja,
uma interajuda em inclinação.
O estatuto morre, o astuto corre.
Ele corre para a luz, ou corre para a cruz.
Mas é um verdadeiro amigo,
é um sincero companheiro.
Não quer ser reconhecido,
quer-se irrestrito, por inteiro.
Não quer impor, quer-se dispor.
Dispõe-se a ajudar, até a amar.
Protege, mesmo quando esmorece.

O camarada não mente.
Nenhum camarada mente!
Não sabe lidar com isso.
Mas é imperial ser coerente,
para fazer durar o compromisso.

João Dias

A Cela

Que ser monstruoso vive,
dentro da caixa, dentro do meu cabide?
A escura besta desconfia.
O amigo lida com a ironia.
Confronta-se com a mentira,
que se passeia e se cruza com a ira.
O Ser adamastor negro da amizade,
já só furibundo e emprenhado
que na efetividade da sublimidade,
deixou de ser um requintado desgraçado.
A amizade é a pérola por ele conservada.
O meu monstro que vigia obscuramente,
protegendo-a de alguma vez ser desenterrada.
Deve tutelar o que ou quem se merece.
Porque a boa recordação não se esquece.
O bichinho da amizade perdura, permanece.
Mas precisa de ser respeitado, educado.
Ensinado a ser bem comportado.
Não há espaço para erros.
Um erro dita o final do profeta.
Não há espaço para permutas
ou falta de boas condutas.

João Dias

quinta-feira, 8 de março de 2012

A Minha Quimera

Não há nada tão reconfortante
como escrever para depois apagar.
E mesmo nada tão cambaleante
como criar quimeras e sonhar.
A escrita nunca me define.
Eu próprio defino a escrita.
No papel redijo em linhas quebradas,
descrevo uma musa sem roupas prateadas.
O tempo paralisa, o ar neutraliza.
A cor evapora, a alma vai-se embora.
Tanta contradição. Nada vale a pena,
o exército de incoerência é já uma centena.
Para quê escrever?
Para quê escrever palavras desoprimidas,
se as folhas de papel estão envelhecidas?
Olha e vê. Sente-me o pulso. Estou vivo?
Estou vivo só porque escrevo?
Se escrever é uma condição que me faz viver,
porque se pede o ressuscitar, para quê o jazer?
Perguntas tão densas e profundas,
respostas tão vagas, tão infundas.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A Raiz da Mutilação


Os cabelos de uma deusa qualquer.
De uma deusa qualquer, tanto se quer.
Não precisas ter qualquer ou algum nome,
basta saberes que és meu síndrome.
Ondulados, amontanhados,
crispados, lisos, sedosos.
Faz de nós singulares apaixonados.
Enamoram, encantam os esposos.
Quero tê-los. Em minha posse.
Quero-os tê-los para mim.
Quero os teus longos cabelos,
numerá-los como meus castelos.
Castelo um, palácio dois?
Bom. Tratarei disso depois.
Coleccioná-los como frota mercante:
existirá algo mais ternamente apaixonante?
Só te quero pelo que tens.
Não te quero além dos teus bens.
Ir da raiz até à ponta,
poder ver o que se encontra.
Quero-te a raiz, sonho ser feliz.


João Dias,


dedico este poema a uma amiga com nome de computador,
suplico-lhe dois mil perdões, pela minha mania de ser colecionador.
Para a Joana Magalhães, uma grande e paciente amiga.

terça-feira, 6 de março de 2012

O Esquerdo Padrão Nu

O padrão xadrez do ar.
A molécula de vividez do mar.
A uniformidade da terra,
onde parte de tudo
é motivo de guerra.
Tudo conectado.
Tudo amestramente ligado.
Vivos e mortos.
Vivos mas preguiçosos.
A crença num Deus,
ou a crença em vários.
Os ateus são pseudo-solitários.
O sol, a lua, o astro celeste,
a esperança aponta a nordeste.
O calor, o vento e a humidade.
A escola da vida complementa-se
sempre com uma boa amizade.
O comunicar, o silênciar.
A nobre atitude é, de facto, o desafabar.

João Dias

segunda-feira, 5 de março de 2012

1/4 de Rubi

Jamais te conheci mais bela,
mais acústica, atenciosa, absorvente.
Procurei-te em toda a minuciosa janela,
aguardei um beijo, qualquer gesto quente.
A tua rua fazia esquina com a minha,
mas nunca estive perto da aleatória linha.
Nunca arrisquei examinar-te à vanguarda,
receei o teu pai, lá com a sua espingarda.
Arma dele e a guerra aberta, o que eu temi!!
Pela álgebra esquartejada guardava-te um anel de rubi.
A sensação de te possuir sem ter,
iguala a de ter rezar sem converter.
Sonhei-te noite sim, dia não.
Sondei-te noite não, dia são.
Gosto-te. Aspiro-te.
Não há tamanho, altura ou longitude de mar,
que ilustre a minha capacidade de te poder amar.
Mas sou preguiçoso e abraçado a vícios terrenos.
Sou forte muito pouco, não resisto aos teus venenos.

João Dias


domingo, 4 de março de 2012

O Amplo Vasto Triste Fado Quadrado

Habitamos um lugar já sem opções.
Um mundo redondo e pouco honrado.
Um sitio redondo, mas quadrado.
Quadrado porque submerge sob as ações.


As pessoas já não mais são pessoas.
E as árvores já não mais lhes falam.
Até as emoções já não mais baralham.
O ar asfixia e as núvens são nódoas.


O nosso mundo é servo do meio corrupto.
Permite-se levar pela usura do seu dinheiro.
Há poucos sem a gula do caça herdeiro.
Mas quem isso vê é só o talhado inupto.


O conformismo começa, é duro e mata!
A volúpia de não fazer nada,
a persistência é unicamente fachada,
já só transfigura o crente num pirata.


João Dias

sábado, 3 de março de 2012

As Erronias Cartas

É pelas cartas que durante dias te escrevi
e pela resposta que em tempo algum te recebi.
Essa partilha que nunca vivi,
e que não e jamais entendi.
O desejo desmedido de suspirar,
pela meloncólica canção de amor, 
que na rádio ouvia todos os dias.
O pudor ridículo de celebrar,
o ato de vitória do pleno louvor.
A congruência de poupar economias.
Anseio por um mundo próspero meu,
que a vida de oferecer se esqueceu.
O mérito da percepção de que
tudo o que de bom há
parte da nossa muscula solidão.
Sempre de dentro para fora,
e nunca o contrário.
Há quem lute, ou quem jamais o faça.
Estão com medo de uma ameaça?
A escura reação acionada.
A radiante ave embriagada.
A neutra aventura homicida,
pela mulher nunca antes conhecida.

João Dias

sexta-feira, 2 de março de 2012

Thoughts (Facebook)



Para quem não teve oportunidade de ver enquanto ainda apresentava o que escrevia no Facebook, aqui estão todos os meus primeiros 51 rabiscos. Vou continuar a escrevê-los claro, mas sem o peso de trabalhar edições ou montagens de imagens.