segunda-feira, 29 de julho de 2013

Como Sente Um Inocente?

É no amor que me revejo,
é no romance que empenho a vida.
Se houver algo após o beijo,
que seja um perene abraço na avenida.

É no amor que eu demais instalo
a instituição que rege a minha poesia,
se ela um dia falir num fugaz intervalo,
que aniquile esta minha fraca sinestesia.

Porque sou um excecional poeta ordinário
que se dedica à escrita de versos de amor.
É no amor que as esperanças saem ao contrário,
quando se trata como jarro alguém que é uma flor.

«jd»

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Algures entre o Crepúsculo e o Amanhecer

Sei que jazes apaixonada nos céus do amanhã
com a viva esperança que o amanhã
desperte da realidade a qualquer momento.
A ternura é um esmo sobremaneira calculado
numa gentil réplica acordada sem assento.

Juntos de tal maneira longe, não vemos o sol a adormecer
na esquina cortada do prédio da frente,
mas notamos (todas as noites) que o sol
se ergue para nós no seu irrestrito absorvente.

As noites são-nos mais longas que os dias,
porque amarga claridade tem menos para contar
que as doces noitadas deste nosso enternecer.
Meu amor, quando matarmos estas saudades,
que seja algures entre o crepúsculo e o amanhecer.

«jd»

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sina de Riacho Estéril

Sinto-me próximo de perder o contacto
de tão longe estar do que perto me pertenceu.
A aguardar estão ambos os lados da margem
que virou, entrou em coma ou pereceu.

Pelo sul conto as imensuráveis estrelas
que se amontoam na varanda da nostalgia.
Imensurável é também a saudade de paixão
que dormir não me deixa deste lado da periferia.

Hajam folhas soltas e secas a voar pelo ar
que respiro com uma intensidade neutra de velho.
Sejam elas a despertar os sentidos adormecidos
de um apaixonado que não liga a nenhum conselho.

Se os amigos desafiam e alertam,
alertam somente o mau ócio da consciência.
Mas o apaixonado só quer ouvir o coração,
deixando a cabeça derrotada pela incoerência.

Heis uma paixão de verão, a sina de riacho estéril
que tem dois afluentes em corrida para um único mar.
Se os amantes algum dia souberem se isto é correto
poderão nunca mais viver outro apaixonar.

«jd»

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Previsão para Agosto

Tive seis ou apenas uma opção,
todas elas sem nexo nenhum,
mas dentro de ti sou verde de verão
e longe um mero outono de jejum.

Fomos duas pétalas que voaram
em sintonia pelos campos de trigo.
Confesso-me falso amante daqueles que te amaram,
quer te esteja abraçado ou vizinho de perigo.

Esse embrião-menino-sentimento que é teu,
teu é por direito, embora direito não esteja.
Julieta, aborta o passado que te alvoreceu
para que uma paixão te surja que eu veja.

Espero pela espera que me incutirás,
porque minha virtude incutida é a de esperar.
Em agosto não prevejo o que sentirás,
quando te for lançado um jovem mancebo beijar.

«jd»

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ensaio Sobre A Outra Condição

            Engane-se quem pense que estar apaixonado é a melhor condição. Não é.
            Há algumas semanas estive a trabalhar num novo conceito, numa nova temática. Claro que o resultado do meu projeto é tão sugestível de ser falacioso como qualquer ideia piloto, ainda assim não posso assegurar que não ficarão rendidos à evidência da minha ideia brilhante. Cuidado com o que vão ler.
            Quando estamos apaixonados o nosso ego é tão volúvel que num momento estamos no topo do Empire State Building e, inopinadamente, estamos de bilhete na mão, sentados junto ao underground de Manhattan. É assim, há pouco a fazer para mudar as circunstâncias.
No entanto, há algo neste mundo que, sendo deliciosamente mais altruísta que estar apaixonado, nos permite abancar nesse topo de Nova Iorque, seguros de nós mesmos, e alongar a felicidade até ao Futuro do Indicativo. O que é esse algo?
            A amizade é o companheirismo elevado ao cubo. A amizade é o cabelo do Presley, a voz do Obama e as palavras do Gandhi. A amizade são mil momentos específicos sem ponta de especificidade. Se dizem que a condição humana é amar, é apaixonar e procriar, estão enganados. Temos de fazer isso por imposição. É uma regra da qual não duvidamos, respeitamos e assimilamos a ordem, mas sem fascínio. O Homem é desfascinado pelas leis. Sim, desfascionado. O Homem gosta é de amizades sem lei, de leis sem leis, da única lei que inibe todas as leis, de uma lei que proíba a existência de leis. O Homem bem que trocava novas amizades pelo amor velho, se tivesse poder judicial para isso, se fosse juiz da situação. O Homem até já apresentou recurso, em todos os tribunais que para aí existem, mas há quem insista em manter a situação pendente, congelada, a aguardar julgamento. Então somos forçados a acatar a ordem do tribunal, a vestir um colete de forças, a calçar umas algemas e a viver o amor, o ódio e a paixão como se fosse algo irrevogável. Numa prisão.
            Até que ponto estará isso correto? Até que ponto temos de obedecer à Lei? Porquê que temos de estar pendentes do amor e do matrimónio do Futuro do Subjuntivo?
            Eu tenho uma sugestão. Não é agradável, ninguém disse que o seria. Aviso já, vai aborrecer muita gente. É uma coisa chata. Bom. Mau. Eu. Eu cagava no amor. Que se fodam as leis, os tribunais e essa gentalha. Eu cagava. Quem diz que a amizade é um plano secundário é um gajo, ou uma gaja - calma que não quero parecer machista - que não sabe nada do assunto. Ou pouco somente. Ou realmente nada porventura. Quando alguém está mal de amores, aparece a amizade e limpa os destroços. Quando o amor chega tarde para jantar, é a amizade que faz companhia. Até admito que, quando o amor está com o período ou não quer dar uma fodinha, pode ser a amizade a fazê-lo. No que a mim me diz respeito, já soube mais sobre esse assunto do que sei hoje - desaprendi, mas enfim. É como vos digo: engane-se quem pense que estar apaixonado é a melhor condição. Não é.
            Estar amizado é bem melhor. Estou convencido que pode virar moda daqui a uns anos, quem sabe. Quiçá. Porventura. Possivelmente.

«jd»

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Beijo Lacónico

Lídia, chamava-te Julieta
se me resgatasses o coração.
Chamava-te pelo nome,
que tão nada te conheço,
por um beijo lacónico
pelo qual me adoeço.

As ruas, as luas
e todas as capitais
- porventura industriais -
estão negras e sujas
do amor que ninguém tem.

Mas Lídia, se me tens o coração,
arde-me a garganta num
espaço de oração.

Beija-me, nem que seja
num ato melindrado,
sente o lábio que te
está solto e apaixonado.

Encanta-te por me sentir
por ti encantado.

«jd»

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Monólogo de Silêncio

         Falas tanto e de forma tão elegante. Pareces um pavão a falar para todos, sobre todos, com todos. Na retina de quem te ouve falar, és só tu quem pode olhar enquanto fala. Podes estar acordada a falar, desde que todos adormeçam a contar-te as palavras. Não é por aborrecimento, é só por suborno à paixão. És o monólogo no grupo de amigos, a sirene de emergência para todas as viaturas da estrada, o raspanete eterno e eterno da mãe para o filho. Falas tanto e tanto e tão bem e tão bem, que todos fazem questão de te ouvir e de te ouvir e de te ouvir.
         Falas bem para caralho - sim, falas bem para caralho. Mas falas desconversando os assuntos, os temas e as demais coisas pensadas, rascunhadas na plataforma-mente e na linha-memória.
         Viciaste-me o tabaco e nunca mais fumaste comigo. Mulher má. És o meu ponto fraco, a ala mais conservadora do meu ego. Para que me serves mulher má? Para que me serves, diz-me lá, se não me serves?
         Penso em ti dia não, noite sim, dia não, noite sim. É exaustivo, estou exausto. Penso em ti, para ti, de ti e com ti (go). Nunca me abandonas. Raios. Nunca?
         Bélica é a máquina sóbria e desativada. Máquina que recalca os sentimentos e que resolve chorar só no momento da saudade. Desculpa lá se falei de ti, ó máquina. Falei só de mim. Máquina: fala agora, fala depois, fala antes da ressaca, antes da guerra, fala antes do conflito, na partida.
         Isto é uma guerra aberta. É uma declaração de paz rasgada. Acabou-se os pactos de não-agressão. Se estou em regressão, a culpa é tua. És má, tão boa mulher. Mulher má, mereces guerra, mereces porrada, pancada, bordoada, cacetada, lambada e tudo o que acabe em ada. Mereces também ser beijada, mas não por mim. Adeus.
         Estou cansado de te ouvir, mas se já não te ouço, como posso eu cansar-me? Isto que tu me tens - a ser um monólogo - será de silêncio.

«jp»