segunda-feira, 1 de abril de 2013

Oitavo Mês

              Cada carro mal estacionado é sinal de uma fraca predominação. Cada lareira, cada incêndio. Cada um deles é vestígio de que me vou aventurar por campos inimagináveis. Cada um não pior que um sim?
              Queria o café da madrugada, a dentada da Primavera. Longe das mentiras, encontrei um amor vago, mas explosivo. Atómico, desde o Agosto de há uns tempos. Nesses dias chorei por caprichos meus. Hoje derramo óleos salgados por pelas teimosias tuas.
              Dei por mim na etapa onde estava nesse mês de Verão. A derradeira etapa. A montanha que nunca tive ousadia para escalar, porque estimava suar como um tolo numa sauna. Nesse calor do qual fujo, jamais encontrei um refúgio. Nunca se me proporcionou um ombro para desabafar a virtude da paixão que te tenho. Nem hoje.
             Hoje será a hora em que virarei a palmeira? De tão íngreme que é, tenho medo que me faltem as forças. Sou animal de pequeno porte, quem quero enganar? Não quero enganar ninguém, nem o cúpido atraiçoo, porque não sou de vinganças. Ele deitou sobre mim um mal olhado. Apaixonou-me pela ninfa que colmato desde esse oitavo mês diabólico, mas não lhe desejo a mesma maldade que ele a mim. Inimigo, livra-te desse enfardo.
             É um dardo num atentado. É o que vivo: um atentado à pontaria. É um grave delito contra a minha soberania. Estou apaixonado pela fraqueza que me sou. É dessa paixão que vivo, a paixão oculta de Agosto. A paixão da maré, do piano submarino do amor, da cauda da areia. A paixão que nos deita, excitados, embriagados, na frieza dos braços um do outro. Na areia.
            Indaga sobre isto que me escrevi, porque é a minha timidez numa carta de amor para ti.

«jd»

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