Essa corrente de espuma suave e delgada na qual antecedo a minha morte. A morte do artista. A morte da personagem que represento, a dádiva que é viver uma vida sem a chance de te achegar.
A verdade é a morte. A verdade é a fuga da qual fujo. Eternamente fujo - da morte e da verdade que isso representa.
A vida é pacata como um veludo de entranhas macias; a vida é um sopro de aventuras imaginadas e não-praticadas. A vida é uma rajada de vento, uma película, um filme mudo.
A morte é o tormento, é o homem vestido e tão completamente desnudo. O cavalgar inexorável do tempo, que não trespassa por nós - é o meu discurso de vítimização.
A vida, de tanto tempo gasto, é uma anomalia a que me prendo - a que melancolicamente me acorrento. É uma corda, uma forca sem força, na orla.
Anseio regressar ao estado embrionário do qual provim, transpiro pela vontade desumana de respirar pelo pouco do que o pré-eu era. Antes de existir não te amava. E se existo para te amar, que não exista - que volte a ser um embrião sem escrúpulos. Adoento-me pela tua intolerabilidade - morro até.
Morro só, sozinho e único em mim. Morro para ti e para toda a existência, por seres e representares tudo o que tenho, e o que não tenho. Acima de mim só há céu, abaixo de mim só estás tu. E eu, tonto, entre a salvação em que me quero e o abismo em que me desejas. Má, suja, má. Pior, és esquecida em mim.
Má e esquecida.
«jd»
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