sábado, 25 de maio de 2013

Maio da Sobrepaixão

O céu triste e eu triste com ele.
O mar lotado de sal e eu salgado de mal com ele.
Cada um trata de si, o ele trata do dele.
Homens perdidos, gigantes e abastados ao frio.
O frio comanda os homens que se mandam ao rio.
A lua sorri ao único homem que se note pobre,
entristece todo qualquer homem que se sobre.
As estrelas contam-se pelo início da mão:
são folhas do diário da minha sobrepaixão.
Porque nos finais de maio
todo o homem é imortal,
porque recorda com carinho a noite da areia
e o céu empastado com flores de cristal.
Vaga noite, com quase sem memória,
tabaco de lado, só grãos de bebida aleatória.
O dia - melhor: a noite - mais carnal de que tenho recordação,
já não é mais do que um mero baú escondido no véu da razão.
Juro não lembrar para jurar não chorar.
Juro quebrar toda a reminiscência do teu atiçar.
Olhar que mata é o ver da mulher,
e se mulher não és, não há como me ter sequer.
Ninguém aprende com os erros
sem os voltar a reviver.
Mas sendo eu um mero mau dissimulado poeta,
vivo-os uma vez apenas para só logo escrever.
Maio. Maio. Maio, maio,
que eu nunca vi tal:
tens o maior tão mau perder,
porque jamais baixas os braços,
sem me apanhares a esvaecer.

«jd»

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