segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Melro Que Piava Baixinho

            Vamos fazer amor com palavras. Aposto que nisso vamos ser sempre virgens, vai ser sempre como se fosse a nossa primeira vez. Se algum dia te amar mais do que te amo, prometo que só te darei palavras e só vou esperar palavras. Palavras e gestos. O contacto é prescindível quando duas almas se tocam.
            A história que eu anuncio, esta bagagem que eu carrego, é a fábula de um pequeno bando de pássaros aos quais me entrego. Carrego a história que me sou, as aventuras do aleatório, os sorrisos roubados e as lágrimas em tom provocatório.
            Notória é a forma como te escrevo, como me entrego a cada palavra que te destino. Recíproco é o encontro casual, mas pontual, que desde a idade da sombra temos vivido no repentino. Nesse romance à luz das velas, que é paciente e balançado, jantamos na fogueira que o amor incendiou. Se algum dia a cera verter, será para que candelabros noutra mesa, sublimes e predestinados, se acendam no que Deus engabelou.
            Nós - e mais uns quantos - exímios na ilusão, confundimos a verdade em que nos banhamos, com a frota de espadas que nos atiçam o coração. Enganámo-nos com promessas vãs e com discursos vagos. Gritamos o amor como conversam dois gagos. Saímos do percurso que juramos progredir juntos, mas fugimos separados como um governante escapa dos assuntos. Quando foi que ficamos tão demagógicos? Quando é que nos tornamos tão fúteis um para o outro?
           
Ontem ouvi um melro a cantar à janela do meu vizinho.
           Era como nós: piava baixinho.

«jd»

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