segunda-feira, 8 de julho de 2013

Ensaio Sobre A Outra Condição

            Engane-se quem pense que estar apaixonado é a melhor condição. Não é.
            Há algumas semanas estive a trabalhar num novo conceito, numa nova temática. Claro que o resultado do meu projeto é tão sugestível de ser falacioso como qualquer ideia piloto, ainda assim não posso assegurar que não ficarão rendidos à evidência da minha ideia brilhante. Cuidado com o que vão ler.
            Quando estamos apaixonados o nosso ego é tão volúvel que num momento estamos no topo do Empire State Building e, inopinadamente, estamos de bilhete na mão, sentados junto ao underground de Manhattan. É assim, há pouco a fazer para mudar as circunstâncias.
No entanto, há algo neste mundo que, sendo deliciosamente mais altruísta que estar apaixonado, nos permite abancar nesse topo de Nova Iorque, seguros de nós mesmos, e alongar a felicidade até ao Futuro do Indicativo. O que é esse algo?
            A amizade é o companheirismo elevado ao cubo. A amizade é o cabelo do Presley, a voz do Obama e as palavras do Gandhi. A amizade são mil momentos específicos sem ponta de especificidade. Se dizem que a condição humana é amar, é apaixonar e procriar, estão enganados. Temos de fazer isso por imposição. É uma regra da qual não duvidamos, respeitamos e assimilamos a ordem, mas sem fascínio. O Homem é desfascinado pelas leis. Sim, desfascionado. O Homem gosta é de amizades sem lei, de leis sem leis, da única lei que inibe todas as leis, de uma lei que proíba a existência de leis. O Homem bem que trocava novas amizades pelo amor velho, se tivesse poder judicial para isso, se fosse juiz da situação. O Homem até já apresentou recurso, em todos os tribunais que para aí existem, mas há quem insista em manter a situação pendente, congelada, a aguardar julgamento. Então somos forçados a acatar a ordem do tribunal, a vestir um colete de forças, a calçar umas algemas e a viver o amor, o ódio e a paixão como se fosse algo irrevogável. Numa prisão.
            Até que ponto estará isso correto? Até que ponto temos de obedecer à Lei? Porquê que temos de estar pendentes do amor e do matrimónio do Futuro do Subjuntivo?
            Eu tenho uma sugestão. Não é agradável, ninguém disse que o seria. Aviso já, vai aborrecer muita gente. É uma coisa chata. Bom. Mau. Eu. Eu cagava no amor. Que se fodam as leis, os tribunais e essa gentalha. Eu cagava. Quem diz que a amizade é um plano secundário é um gajo, ou uma gaja - calma que não quero parecer machista - que não sabe nada do assunto. Ou pouco somente. Ou realmente nada porventura. Quando alguém está mal de amores, aparece a amizade e limpa os destroços. Quando o amor chega tarde para jantar, é a amizade que faz companhia. Até admito que, quando o amor está com o período ou não quer dar uma fodinha, pode ser a amizade a fazê-lo. No que a mim me diz respeito, já soube mais sobre esse assunto do que sei hoje - desaprendi, mas enfim. É como vos digo: engane-se quem pense que estar apaixonado é a melhor condição. Não é.
            Estar amizado é bem melhor. Estou convencido que pode virar moda daqui a uns anos, quem sabe. Quiçá. Porventura. Possivelmente.

«jd»

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