quinta-feira, 4 de julho de 2013

Monólogo de Silêncio

         Falas tanto e de forma tão elegante. Pareces um pavão a falar para todos, sobre todos, com todos. Na retina de quem te ouve falar, és só tu quem pode olhar enquanto fala. Podes estar acordada a falar, desde que todos adormeçam a contar-te as palavras. Não é por aborrecimento, é só por suborno à paixão. És o monólogo no grupo de amigos, a sirene de emergência para todas as viaturas da estrada, o raspanete eterno e eterno da mãe para o filho. Falas tanto e tanto e tão bem e tão bem, que todos fazem questão de te ouvir e de te ouvir e de te ouvir.
         Falas bem para caralho - sim, falas bem para caralho. Mas falas desconversando os assuntos, os temas e as demais coisas pensadas, rascunhadas na plataforma-mente e na linha-memória.
         Viciaste-me o tabaco e nunca mais fumaste comigo. Mulher má. És o meu ponto fraco, a ala mais conservadora do meu ego. Para que me serves mulher má? Para que me serves, diz-me lá, se não me serves?
         Penso em ti dia não, noite sim, dia não, noite sim. É exaustivo, estou exausto. Penso em ti, para ti, de ti e com ti (go). Nunca me abandonas. Raios. Nunca?
         Bélica é a máquina sóbria e desativada. Máquina que recalca os sentimentos e que resolve chorar só no momento da saudade. Desculpa lá se falei de ti, ó máquina. Falei só de mim. Máquina: fala agora, fala depois, fala antes da ressaca, antes da guerra, fala antes do conflito, na partida.
         Isto é uma guerra aberta. É uma declaração de paz rasgada. Acabou-se os pactos de não-agressão. Se estou em regressão, a culpa é tua. És má, tão boa mulher. Mulher má, mereces guerra, mereces porrada, pancada, bordoada, cacetada, lambada e tudo o que acabe em ada. Mereces também ser beijada, mas não por mim. Adeus.
         Estou cansado de te ouvir, mas se já não te ouço, como posso eu cansar-me? Isto que tu me tens - a ser um monólogo - será de silêncio.

«jp»

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