E sai-me da cabeça. Sai daqui. Sai para longe e não mais voltes. Não voltes nunca mais, mas fica, fica comigo. Fica comigo e sai, sai só dessa vida que levavas, porque levavas uma vida em que a última refeição nunca era esquecida. Se queres ter-me como refeição, tens de esquecer o último piquenique. Se me queres comer, não podes pensar no último prato, no último almoço, na última paragem na auto-estrada. Se me queres comer, come - mas não penses na carne já digerida. Porque amor, meu amor, se queres jantar comigo - ou até jantar de mim mesmo - tens mesmo de jantar de mim, sem pensar em mais nada, em mais nenhum banquete antigo.
Posso ser o teu café da manhã; o teu leite achocolatado que faz crescer o osso. Posso ser o sumo que escasseia ao almoço. Posso ser o vinho verde, vermelho, branco da noite - até o porto que te prepara a almofada. Porque amor, meu amor, sem esse copinho, não há sonhos. Não há sonhos para ninguém. Por isso, meu amor, bebe-me. Sonha de mim.
Consigo ser o pão-nobre que acompanha o teu café, a bolacha Maria que vive para te encher o estômago cardíaco. Consigo ser-te a maçã sem te ser Adão. Não sou teu Adão, sou-te só um fascinante poeta. Tens um leque de opções, mas escolhe-me. E depois de me fixares à tua ementa, já me tens. Porque não outro poderá sê-lo (agora) com a bravura com que eu te sou. Porque só eu me dou a comer (agora). E se, porventura beberes um porto, come-me com ele - de empurrão, de penalti. Agora.
Se me queres comer, come (agora). Come porque te fujo se não comeres. Come porque te sou alimento. Sou o que de mais vitaminico arranjas. E aconselho: evita a anemia, a anorexia: come-me! Come ao sol, à lua: na prisão ou na selva. Come onde quiseres. Come como quiseres. Come quando qui...
Come. Ninguém ter de ver. Mas amor, meu doce amor, não sejas trapalhona, cozinha-me.
«jd»
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