quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É. O amor é.

           O amor é. O amor. É.
           Pateticamente esperançoso: eis o amor. Eis o amor em toda a sua magnificência, em todo o seu auge, em todos os seus tempos verbais mais ínfimos e em todos os locais mais ostentosamente fotografados do Outono. O cair das folhas secas, que só variam do âmbar ao pardo, do amarelo ao castanho, do sol à árvore, permitem-se a ficar gravados na eternidade. Ousam ficar gravados na eternidade deste amor que é.
          O amor é. O amor é construído numa terra tão estéril e tão inclinada que os amores julgam ver no seu amor um bom terreno para construir amor. O amor não se constrói em sítios desses. Toda a gente o sabe.
          O amor é edificado entre o mercado e a florista, entre a mulher e o homem, entre o necessário e as flores. O amor precisa de pilares, de quatro pilares. O amor é. O amor precisa de ser vivido no campo, nos vales, numa cabana moderna ou numa velha casa citadina. O amor faz-se no topo dessa casa, por debaixo das águas furtadas, numa noite enregelada de Inverno. Não há amor que não mutile a mais fria das estações. Não há amor que não aqueça os apaixonados quando pendurados sobre o rasgão da parede: essa janelinha redonda forrada a madeira seca, que lhes concede as mais ricas e vagarosas vistas de todo um vale vivamente assediado pelas montanhas. Quando as serras começam a esconder o sol que lhes adormece, os namorados beijam-se. Do sopé até ao cume, os namorados beijam-se como se o amor lhes fosse mútuo. E é. Tão somente mútuo. Beijam-se.
          Tão verdadeiro. O amor é. O amor lhes é. Tão verdadeiro. Tão verdadeiro como o nascimento após a morte, como as forças da primeira flor que empurra e derrete a neve que a cobre. Tão bonita a primeira flor de Primavera. Tão estreante e viva. Tão pioneira como o primeiro amor, que será sempre o mais prematuro e genuíno. Este casal, estes namorados, são a primeira flor de Primavera. Só se tiveram. Um ao outro, só se tiveram. Quiçá até, só se têm. Um ao outro, só se têm. É verdadeiro. O amor é. O amor lhes é. Tão verdadeiro. Tão único e tão astuto e lindo lhes é o amor.
          Nem a brasa que se respira no campo - quem lá vive saberá do que falo - é razão, pretexto ou encenação de um amor desverdeado entre os dois namorados. O amor não lhes deixa de ser verde. O Verão traz com ele todo um foco de calor e todo um foco de chama. O Verão é matreiro, mas eles lhe são tão mais! Os namorados, na sua casa de tijolo e betão, ou de pedra e madeira, resistem ao calor que a mãe natural lhes incube, gerando ainda mais calor e trepando, mais e mais, na temperatura e na temperatura. Fazem amor com palavras debaixo do brilho do sol. Fazem amor com os corpos pousados nas férvidas telhas da casa. Nesse teto ao abrigo, dão as mãos à cordilheira que recorta o longe horizonte e abençoam todos os anos seguintes.
O amor é. O amor. É.
          É tudo isto. Que lhes sejam anos tão doces e prósperos como o último.
          E, ao amor que lhes é, ámen.

«jd»

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