O que faz o mundo andar é a preguiça e a cobardice.
O cobarde vai mais longe que o gajo que se diz atestadinho de bravura. O cobarde explora tudo com medo, investiga todas as soluções com pavor. O cobarde não se rende a qualquer solução. O cobarde tem medo das soluções boas, porque está convencido que essas soluções podiam ser ótimas. Um nível acima. Um primor. O cobarde finge que acredita nas soluções satisfatórias para que o corajoso se renda a elas, mas o cobarde nunca desiste de procurar soluções maiores. É um cobardolas.
O preguiçoso escolhe o mesmo caminho. O preguiçoso tem preguiça de escolher a primeira solução, porque é uma solução dolorosa. O preguiçoso fica à espera que uma solução menos dolorosa apareça - normalmente é a segunda solução. Quando um problema lhe surge, o preguiçoso fica apático à espera que ele desapareça. Se o preguiçoso tem preguiça de agir, raramente terá preguiça de pensar. O pensar exige preguiça. O preguiçoso tem de ser um bom pensador.
O gajo corajoso normalmente não é preguiçoso, aceita de bom grado a primeira solução que se lhe impõe, porque a única coisa que quer é resolver o problema. E rapidamente: antes que se alastre. E, resolver o problema - todos nós sabemos isto -, não é aceitar toda e qualquer solução que nos é apresentada. Resolver o problema é ter preguiça de o resolver. É adiar a sua resolução. É pensar e bem pensar e ter preguiça de atuar e ter medo de atuar.
O corajoso não pensa, o corajoso só atua. É o típico menino rico: um ativista que não pensa. O corajoso é um ativista que não pensa.
O preguiçoso e o cobarde são os melhores a fazer o mundo andar para a frente. São eles que fazem com que o mundo pense. Sem preguiça, todos atuaríamos sem pensar. Sem cobardia, todos aceitaríamos a primeira solução.
É preferível ser um medroso de preguiça a um merdoso de valentia.
Ser cobarde é bom; ser preguiçoso?, é jeitoso também. Não é a coragem que faz o mundo andar para a frente. Não é a valentia que faz o mundo andar sequer. O mundo pára quando se é valentão. Atuar só por atuar é a própria aceitação da inércia de atuar. Se queremos fazer algo, que o façamos apenas depois de sermos cobardes e preguiçosos - depois de bem pensarmos. Vamos atuar só depois de pensar muito bem.
Vamos atuar só depois de pensar muito bem: eis uma boa declaração de amor.
«jd»
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