segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Mim Cogitar Mal

       Pensar é a minha tarefa. É o cargo não-remunerado que mais recheia o meu curriculum.
       Pensar traz-me tanto de emoção, como de perda de tempo. Quando penso, não penso em mais nada. Quando penso, a mente congela-me os pensamentos. Os pensamentos congelados não são mais do que a mente a pensar. A mente a pensar não é mais que um ofício prematuro da ação. A ação é um parasita do pensamento, do pensar. Sem pensar, não há ação. Sem ação, não há consciência. Sem consciência, não há pensar. Este é o ciclo supremo e infalível.
       Pensar é como o sexo da primeira vez: dá prazer, mas traz dor. Nada dá mais prazer e dor que pensar. Pensar dói e vicia pelo prazer que dá. Eu penso que sei pensar, e ao pensar que sei que penso tenho tanto de dor, como de harmonia. Nasce-me uma flor para de logo murchar.
       Pensar dói-me pelo simples facto de tentar, ainda que sem sucesso, concentrar-me em não pensar. Pensar estraga-me a harmonia que procuro. Se não pensar, talvez a encontre. Mas como encontrar algo sem pensar em procurar? A procura depende-me do pensamento. Se pensar menos, poderei encontrá-la?
       Há todo um edifício de sensações que precisam do pensamento. O amor, ainda que primaveril e perfidamente apaixonado, precisa do pensamento. A paixão vive do pensar, do remediar, do balancear, do ajustar. Não há equilíbrio nenhum que se possa fazer num amor que não tenha cunho do pensar. O pensar manda, coordena, governa todas as paixões. Não há paixão nenhuma, por mais louca e irrefletida, que não tenha tido mãozinha do pensar. O pensar manda até no mais inconsciente dos apaixonados. Diz-lhes como atuar, mesmo nos atos mais imprudentes.
       Há sempre um pensar, mesmo que não seja um ótimo pensar: heis uma boa definição da minha tarefa. Penso que penso. Penso que sei pensar, ainda que mal. Penso, ainda que mal, porque ao menos penso. Páro e penso. Todos os dias. Todas as horas. Penso.
       Não sei fazer mais nada na vida do que pensar. Se me aceitarem dar emprego, que seja para pensar: porque mais nada sei fazer. Talvez pensem que não sou um bom pensador. Sou um mau pensador, mas sou um mau pensador que pensa ser um bom pensador. Há-de valer o tempo de pensarem nisso com a calma que pensar exige.
       Mas chega de pensar. Pensar faz dói-dói, faz pensar.

«jd»

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